
TALVEZ ELE TENHA SIDO A PRIMEIRA PESSOA A GANHAR DINHEIRO COM TURISMO NAS SELVAS DO BRASIL, MAS DE UMA MANEIRA TOTALMENTE SANGUINÁRIA
Autor – Rostand Medeiros
Existem algumas figuras que am por este mundo de meu Deus e não deixam história nenhuma. Já outras deixam mais do que histórias, viram lendas. É o caso de Alexander “Sasha” Siemel, conhecido como o maior caçador de onças que já existiu e que ganhou muito dinheiro trazendo gringos abastados para matar estes animais na região do Pantanal.
Conta-se que ele caçou com sucesso nas selvas de Mato Grosso, mais de 300 destes que são considerados os maiores felinos do hemisfério ocidental e o terceiro em tamanho no mundo.
Sasha Siemel nasceu em Riga, capital da atual Letônia em 1899, quando o seu país ainda era parte do Império Russo. Migrou em 1907 para os Estados Unidos, onde permaneceu apenas dois anos. Depois seguiu para a Argentina, onde foi empregado em uma loja de impressão em Buenos Aires e no ano de 1914 ele chega ao Brasil.

Não sei como aconteceu, mas Sasha trabalhou como armeiro e mecânico em campos de mineração de diamantes no Mato Grosso. Consta que na região pantaneira ele se encantou com a natureza viva e praticamente intocada. Ali conheceu um nativo que lhe ensinou a se tornar um caçador tradicional de onças, daqueles que mata o bicho armado apenas com a famosa zagaia, uma lança com dois metros de comprimento ou mais. Consta que foi no ano de 1925 que ele matou seu primeiro felino.
Logo as habilidades do caçador louro, de sotaque estrangeiro e olhos claros foi reconhecida no Pantanal. Siemel trabalhou contratado por fazendeiros na função de matar onças para proteger os rebanhos de gado. A informação que um europeu matava onças nas impenetráveis e misteriosas selvas brasileiras também chegaram aos ouvidos do chamado “mundo civilizado”.
Em 1931 foi lançado um livro intitulado “O Inferno Verde”, escrito por Julian Duguid, que juntamente com dois amigos aventureiros empregaram Siemel como guia em uma viagem pelo Pantanal no ano de 1929. Na obra são detalhados os acontecimentos e Siemel é apelidado como “Tiger Man”.
O caçador de onças estrangeiro, que não era besta de forma alguma, logo incentivou o maravilhado Duguid a realizar várias palestras sobre a sua viagem em clubes de exploradores existentes em todo o mundo, preferencialmente levando o guia e caçador de onças junto.
Em uma época muito anterior aos fantásticos documentários do Discovery Channel, da National Geografic e do Animal Planet. Estas palestras faziam o público perder o folego e o caçador Sasha Siemel conseguiu obter novos e fascinados clientes para conhecer o nosso Pantanal.

Em 1937, enquanto participava de uma palestra na Filadélfia, Siemel conheceu Edith Bray, uma jovem fotógrafa que mais tarde se juntou a ele no Pantanal. Três anos depois, com a idade de 47 anos, casou-se com Edith e os dois permaneceram no Pantanal enquanto nasciam seus filhos. Os Siemels viviam numa casa flutuante as margens do Rio Miranda, junto com seus cães de caça e outros bichos.
Sasha Siemel, Edith e seus filhos mudaram-se para o sudeste da Pensilvânia em 1947 e comparam uma propriedade rural que foi batizada de “Bom Retiro”, em português mesmo. Consta que neste mesmo ano foi editado e comercializado um filme chamado “The Jungle Family”, que rodou o mundo. Além de mostrar Sasha e sua família no “inferno verde” do nosso Pantanal, uma das cenas mostra Sasha armado apenas com uma zagaia, em luta de contra uma onça.
Sasha Siemel levava uma vida tranquila, onde se dividia entre palestras e caríssimas expedições à América do Sul. Ele falava seis línguas: letão, russo, alemão, inglês, espanhol e português.

Não se pode negar que Siemel era um homem de visão e sabia utilizar os holofotes em seu favor e a favor do seu negócio. Ele lançou quatro livros sobre suas aventuras, um deles em coautoria com a esposa. Participou de séries cinematográficas sobre as caçadas de onças pantaneiras, esteve atuando em um filme no ano de 1946 e montou em Perkiomenville, Pensilvânia, um museu. Em um antigo moinho, Siemel mostrava aos visitantes sua coleção de troféus de caça, obras de arte, curiosidades, minerais, conchas, moedas, armas, utensílios indígenas, equipamentos utilizados na caça e captura de onças e muitos outros itens.
Outra situação verdadeiramente interessante era que durante as viagens pelo Pantanal, o arrojado Sasha poderia providenciar para que seus clientes tivessem a sua aventura filmada. Evidentemente que o pacote ficava bem mais caro.
O museu fechou em 1969, após a última viagem de Siemel ao Pantanal, no qual ele guiou um grupo de geólogos pela região. O aventureiro morreu em Montgomery County, Pensilvânia, em 1970, com a idade de 80 anos.

Provavelmente o letão Aleksandrs Ziemelis, este era o verdadeiro nome de Sasha, foi a primeira pessoa a ganhar grana, dólares, atuando turisticamente junto a exuberante natureza brasileira. Ele seria então o primeiro empreendedor do turismo aventureiro em terras Tupiniquins?
Realmente eu não sei.
Mas sei que evidentemente a sua forma de fazer turismo era manchada de muito sangue dos nossos mais nobres animais e, por mais gente boa que ele fosse, certamente os nativos que o ajudavam deviam receber a menor fatia do bolo.
Mesmo com a caça de onças proibida por lei federal desde 1967, esta forma de turismo ainda ocorre clandestinamente no Pantanal e isso se deve em grande parte a volta das onças.
Até o início da década de 1990 era preciso muita sorte e paciência de ermitão para ver uma onça na região. Mesmo nas áreas mais distantes, era necessário muito tempo para encontrar uma pegada do felino. Atualmente é muito fácil ver estes animais nas margens dos rios e inclusive o número de pessoas atacadas por onças voltou a subir. Outra ideia aponta que muitas áreas do Pantanal, anteriormente utilizadas para a criação de gado, tornaram-se iníveis e foram abandonadas. A ausência do homem teria permitido que as onças se multiplicassem.

Conhecida como onça-pintada, Jaguar ou Jaguará (Panthera onca), é um animal do gênero Panthera, membro da família dos felinos, mamífero da ordem dos carnívoros. A onça é ágil, arisca, paciente, silenciosa, veloz e muito feroz. Sobe em árvores com facilidade e atravessa rios a nado, pois é excelente nadadora. Sabe agitar a sua cauda sobre a superfície dos rios para atrair os peixes, que ela pesca com uma patada. Possui hábitos diurnos ou noturnos, mais para caçar prefere a escuridão da noite. Satisfaz seu apetite alimentando-se com um cardápio variado que inclui antas, peixes, capivaras, jacarés, jiboias, serpentes, veados e outros mamíferos de pequeno porte.
Enquanto alguns dos grandes felinos atacam diretamente no pescoço, as onças, graças as suas mandíbulas poderosas, atacam principalmente nas cervicais. Esses felinos podem frequentemente matar mordendo diretamente o crânio, de um jeito um tanto incomum, sendo o único da sua espécie a realizar esta ação. Tem uma mordida excepcional e poderosa mesmo em relação aos outros grandes felinos, isso permite que ele fure a casca dura de uma tartaruga.

A gestação das onças fêmeas dura em média 95 a 110 dias e elas podem dar a luz a uma ninhada de até quatro filhotes. Os pequenos felinos nascem completamente cegos e am a enxergar com duas semanas de vida. A fêmea da onça normalmente só cria dois filhotes, permanecendo junto a eles por até dois anos. Enquanto as fêmeas alcançam a maturidade sexual aos dois anos, os machos atingem a maturidade em torno dos três anos e pelas pesquisas em cativeiro as onças podem viver até 20 anos. Já o acasalamento ocorre em qualquer época do ano.
As onças são animais que se deslocam sempre com a cabeça baixa e as manchas do seu corpo são uma perfeita camuflagem. A coloração é a mesma tanto para os machos como para fêmeas, mais ocorrem variação de indivíduos. São de coloração amarelo avermelhadas, com manchas pretas meio redondas que se distribuem simetricamente pelo corpo.
Fisicamente esses felinos manchados se assemelham aos leopardos, embora a onça seja mais resistente e maior, além da sua cabeça ser proporcionalmente maior em relação ao corpo. Um exemplar adulto pode alcançar até 2,60 metros de comprimento, chegando a pesar em torno de 115 kg, embora em média os machos pesem 90 kg e as fêmeas 75 kg.

Infelizmente com o retorno do grande felino e o contato com os humanos e seus animais de criação, voltam os problemas. Pessoas tem sido mortas no Pantanal, no Paraná e onças tem atacado o gado em cidades do interior. Até nos vizinhos estados da Paraíba e do Ceará, problemas com felinos selvagens estão acontecendo. Em 2012, na cidade paraibana de Bonito de Santa Fé , algumas suçuaranas, uma parente menor da onça pintada, atacaram animais de criação. No Ceará notícias informam que em uma localidade a 337 km de Fortaleza, um agricultor foi atacado e quase morto por um destes animais.
Na Argentina eles tentam manter o número de onças pintadas e suçuaranas controlados através da prática da caça legalizada, fiscalizada e paga. Lá, para se matar uma onça pintada deve-se desembolsar mais de R$ 4.000,00 reais.
Talvez eu não seja a melhor pessoa para comentar sobre estes animais. Vale frisar que a única onça que vi na vida era um exemplar deste belo animal que ficava confinado em uma minuscula jaula na entrada da casa noturna “Royal Salute”, que ficava no subsolo do extinto Grande Hotel, na Praia do Meio, lá na metade da década de 1980. Por razões obvias, se estivesse no meio do mato e me deparasse com uma pintada faminta, preferia que ela estivesse mortinha da silva, ou então eu seria o almoço do felino.
Não sei se aqui no Brasil a caça controlada daria certo, mas algo deve ser feito para se evitar novas mortes de humanos e a extinção destes animais. Mas evidentemente nunca mais da forma como Sasha Siemel realizava.
Fontes-http://cefaprocaceres.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=575&Itemid=76
– http://tokdehistoria-br.noticiasdaparaiba.com/200900/p_096.html
– http://en.wikipedia.org/wiki/Sasha_Siemel
– http://eloir-mario.blogspot.com.br/2011/08/um-pouco-de-sasha-siemel.html
– http://www.animatronic.com.br/2007/sasha-siemel-o-cacador-de-oncas/
– http://penn.museum/documents/publications/expedition/PDFs/51-3/from%20the%20archives.pdf