Descobri Que o Exército Brasileiro Realizou em 1942 Todo um Trabalho Documental e Iconográfico, Com Fotos e Filmes Sobre Natal e a Base de Parnamirim. Mas onde está esse material???
Mesmo com muitos historiadores não aceitando essa situação, o tema sobre a cidade de Natal durante a Segunda Guerra Mundial sempre foi algo que chamou (e chama) bastante a atenção do povo dessa cidade, sendo os materiais produzidos sobre esse período da história local os mais consumidos. São livros, vídeos, histórias em quadrinhos, peças de teatro e outros produtos.
NATAL, BRASIL – JUNHO 1943: A view as US servicemen at the Parnamirim airport at the US Air Force base in Natal, Brazil. (Photo by Ivan Dmitri/Michael Ochs Archives/Getty Images) *** Local Caption***
A presença de tropas estrangeiras na cidade, dos atos de espionagem nazifascista em Natal, a reação dos natalenses envolvidos nesse contexto, o que mudou na cidade, o que a população conseguiu de vantagem com tudo isso e também o que sofreu, são sempre pontos de interesse dos moradores da “Cidade do Sol”.
Enfim, devido a sua propalada posição estratégica, Natal foi seguramente a cidade mais envolvida na Segunda Guerra Mundial na América do Sul.
Parnamirim Field– Fonte – NARA.
Aqui existiu uma das maiores bases aéreas Aliadas envolvidas no conflito e daqui partiram milhares de aeronaves para atuarem em diversas frentes de combate, desde a África, ando pela Europa e chegando até a China.
Por aqui sempre chamou atenção quando surgem novos dados e materiais, principalmente iconográficos, sobre a cidade naqueles tempos turbulentos. Uma coleção de novas fotos, ou até mesmo uma simples foto, já é motivo de discussão entre aqueles que gostam de observar esse período da História da cidade.
E com muita satisfação eu descubro que o Exército Brasileiro realizou em 1942 todo um trabalho documental e iconográfico, com fotos e filmes sobre Natal e a Base de Parnamirim. Todo esse material foi destinado para a produção de uma palestra que se realizou nas primeiras semanas de janeiro de 1943, no antigo Palácio da Guerra, atual Palácio Duque de Caxias, ao lado da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Vejam abaixo!
Maravilha! Mas como foi produzido esse material? Quem o produziu? Quem foi o oficial que apresentou esse trabalho no Rio? E o mais importante – onde está esse material?
Sobre Quem Apresentou
Nos jornais brasileiros, não consta o nome de quem realizou e produziu o material iconográfico, mas como as notícias apontam o capitão Jefferson Cardim de Alencar Osorio como o palestrante do evento no Palácio Duque de Caxias e devido a sua patente, o mais provável é que ele tenha sido o responsável por essa pesquisa.
Mas quem era Jefferson Cardim e como ele veio parar em Natal?
O capitão Jefferson Cardim de Alencar Osorio na época da Segunda Guerra.
Sabemos que nasceu em 17 de fevereiro de 1912 no Rio de Janeiro, sendo filho do capitão de corveta Roberto de Alencar Osorio e da professora Corina Cardim de Alencar Osório.
Apesar de ter um pai oficial da Marinha, Cardim decidiu seguir a carreira militar no Exército. Entrou na Escola Militar do Realengo, sendo declarado aspirante a oficial em 25 de janeiro de 1934 (Turma Marechal José Pessoa) na arma de artilharia. Logo ô jovem oficial foi promovido a segundo tenente.
A sua primeira unidade foi o 6º Grupo de Artilharia de Costa (6º G. A. Co.), no Forte de Coimbra, no atual estado do Mato Grosso do Sul. Em 1936 estava no 4º Regimento de Artilharia Montado (4º R. A. M.), em Itu, interior de São Paulo, sendo depois transferido para Santa Maria, no Rio Grande do Sul, para atuar no 5º Regimento de Artilharia Montado (5º R. A. M.), conhecido como Regimento Mallet. Na sequência veio para Niterói, Rio de Janeiro, para servir no Forte de São Luiz, como oficial da 2ª Bateria Independente de Artilharia de Costa (2ª B. I. A. C.).
Canhão alemão antiaéreo de 88m.m. do I/3º R. A. A. Ae e utilizado em Natal.
Em dezembro de 1941, um dia antes do ataque japonês a base americana de Pearl Harbor, ele concluiu o curso de defesa antiaérea e logo foi transferido para o Primeiro Batalhão do 3º Regimento de Artilharia Antiaérea (I/3 R. A. A. Ae.) que estava aquartelado em Natal, tendo sido promovido a capitão.
Como Pode Ter Sido Realizado Esse Trabalho
Certamente trabalhando com outros militares e provavelmente devido ao volume de informações, o capitão Jefferson Cardim decidiu dividir o seu trabalho em duas partes. Em uma das partes ele trabalhou com dados sobre a topografia, clima, custo de vida (que estava subindo bastante em Natal com a presença dos militares americanos), saúde, alimentação, ambiente social e cultural.
NATAL, BRASIL – JUNHO 1943: A street view as servicemen talk with locals in Natal, Brazil. (Photo by Ivan Dmitri/Michael Ochs Archives/Getty Images) *** Local Caption***
Na outra parte, segundo foi publicado nos jornais, foram basicamente contemplados os aspectos relativos a defesa militar de Natal, a defesa da Base de Parnamirim e finalizando havia o foco sobre os militares brasileiros e americanos na região. Foi visado o número de militares atuando na área e, provavelmente, nesse último quesito um dos pontos observados podem ter sido os aspectos da interação e convivência entre as forças do Brasil e dos Estados Unidos, algo que preocupava os dois governos.
NATAL, BRASIL – JUNHO 1943: US servicemen sit to have a drink at the Grande Hotel in NATAL, BRAZIl. (Photo by Ivan Dmitri/Michael Ochs Archives/Getty Images) *** Local Caption***
Outras coisas colocadas pelo capitão Jefferson Cardim nessa última parte dos estudos e da palestra são os chamados “pontos sensíveis importantes” como as vias de transporte em Natal, tanto terrestre como fluvial, nesse caso certamente o Rio Potengi. Outros pontos eram as “defesas naturais da cidade” uma parte específica sobre as dunas que cercam Natal. Havia ainda uma parte sobre “o moral da tropa” e outro sobre as “Secas na defesa do Nordeste”. Sobre essa última parte parece que esse militar e quem mais o tenha assessorado adentraram para o sertão potiguar.
Apresentação no Rio de Janeiro
Quando esse projeto teve início e quando se deu sua finalização não sabemos. Mas sabemos que o capitão Jefferson Cardim sofreu um acidente quando estava em Natal, mas não é comentado em nenhum local o que lhe aconteceu. Mas aparentemente foi algo grave, pois consta uma notícia publicada no jornal carioca Diário de Notícias, de 9 de agosto de 1942, que ele veio de Natal para o Rio de Janeiro para ficar internado no Hospital Central do Exército e estava acompanhado do soldado Antônio da Conceição, lotado no I/3 R. A. A. Ae.
Dois meses depois, dia 20 de novembro, é publicado no mesmo Diário de Notícias uma reprodução do Boletim Interno nº 269 da Diretoria de Artilharia, ordenando que Cardim fosse “inspecionado” pela Diretoria de Saúde para a conclusão da sua licença de saúde.
Jefferson Cardim quando era coronel, no início da década de 1960.
As próximas noticias sobre Cardim é a divulgação da palestra, que foi chamada “Conferência sobre a Defesa de Natal”.
Em um mesmo dia (03/12/1942) foram publicadas três notas explicativas sobre a conferência em jornais do Rio (Jornal do Brasil, Diário de Notícias e Gazeta de Notícias). Dois dias depois esse material foi repetido na imprensa natalense no jornal A Ordem. Todos esses jornais comentaram que a palestra iria ocorrer no dia 9 de dezembro, uma quarta feira, às duas da tarde. Depois surgiu outra nota informando que foi alterada para o dia 13, no mesmo horário.
Bem, se a conferência aconteceu, ou não, sinceramente eu não sei!
Como o evento se desenrolou e como foi apresentado, ou como foi visto e recebido pelos presentes e até quem estava por lá é um mistério!
Soldados dos Dragões da Indepêndencia no interior do Palácio Duque de Caxia em 1942.
E a razão foi porque não encontrei nenhuma indicação sobre isso nos jornais e revistas disponíveis no site da Biblioteca Nacional. Também fiz uma busca nos riquíssimos sites do Arquivo Nacional e nada. Mas eu não acredito que depois de tanta propaganda, tanta divulgação em alguns dos principais jornais do país, esse evento deixou de acontecer.
Evento no Palácio Duque de Caxias em 1945, com a participação do general Eurico Gaspar Dutra e o general norte-americano Mark Clark, comandante do 5º Exército dos Estados Unidos na Itália.
Mas no final das contas, o mais importante é saber o que foi feito desse importante material, que teoricamente foi apresentado pelo capitão Jefferson Cardim.
Guerrilha de Três os
Jefferson Cardim continuou no Exército Brasileiro, progrediu na carreira militar, mas adentrou bastante no aspecto político e houve consequências para ele e sua família.
O coronel Jefferson Cardim e sua esposa em uma solenidade.
“Na noite de 26 de março de 1965, um grupo de camponeses, militares e profissionais liberais liderado pelo coronel do Exército Jefferson Cardim Osório e pelo sargento da Brigada Militar (PM) Albery Vieira dos Santos toma a cidade de Três os (RS).
Militares coletando informações na região de Três os, Rio Grande do Sul.
Depois de cortar a comunicação telefônica da localidade e levar armas, fardas e munição do destacamento policial, o comando invadiu a rádio local e transmitiu um manifesto contra a ditadura. Dali, o grupo partiu para os municípios de Tenente Portela e Barra do Guarita, no Rio Grande do Sul, e Itapiranga, em Santa Catarina, onde tomaram os postos da Polícia Militar.
A prisão dos guerrilheiros deu-se na cidade paranaense de Capitão Leônidas Marques dois dias mais tarde. O coronel Cardim fazia parte do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), grupo de militares ligados ao ex-governador Leonel Brizola, exilado no Uruguai.
Jefferson Cardim preso.
Cardim é conhecido por ser o líder de um dos primeiros movimentos armados contra a ditadura. Filho de um oficial da Marinha, em diversas situações se posicionou contra as orientações do exército. Com o golpe, a ditadura cassou sua patente e o aposentou depois do Ato Institucional Nº 1 (AI-1).
Quando ele já estava no Uruguai, por auxílio de João Goulart, organizou o Movimento 26 de Março, também conhecido como Guerrilha de Três os. Da cidade do Rio Grande do Sul de mesmo nome, o grupo do coronel subiu em direção ao Paraná. Isso porque, no dia 26 de março de 1965, o presidente Castelo Branco estaria em Foz do Iguaçu para a inauguração da Ponte da Amizade, na fronteira entre Brasil e Paraguai.
Solenidade no velório do sargento Carlos Argemiro de Carvalho, paranaense, única vítima da Guerrilha de Três os.
A ação foi frustrada pelas tropas do governo, resultando na dispersão e posterior prisão de todos os insurgentes. Preso e levado a Curitiba (PR), Cardim foi torturado e ficou detido até 1968, quando conseguiu fugir. Em 1970, foi sequestrado na Argentina, como uma das primeiras ações da Operação Condor”.
Em 1985, Jefferson Cardim teve a sua anistia cassada e foi viver fora do país como refugiado Através da ação de setores da Organização das Nações Unidas (ONU), o governo francês o acolheu e durante a sua permanência em Paris. lhe concederam uma ajuda de 3.600 francos, que, segundo Cardim declarou, dava para comer em restaurantes universitários e dormir em um quartinho de hotel no Quartier Latin.
Faleceu no Rio de Janeiro, em 29 de janeiro de 1995.
Agradecimento especial ao escritor e pesquisador Durval Lourenço Pereira pela ajuda com informações adicionais para esse texto.
Sabemos que seis potiguares morreram na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, integrando a Força Expedicionária Brasileira, a famosa FEB. Eles eram os soldados Belarmino Ferreira da Silva, José Varela, Manoel Lino de Paiva, Cosme Fontes Lira e os sargentos Wilson Viana Barbosa e Rodoval Cabral da Trindade.
Mas quando buscamos maiores informações sobre cada um desses participantes do conflito, os resultados são bem limitados, com lacunas bastante amplas para compreender suas histórias. Um exemplo é o caso do sargento Rodoval Cabral da Trindade.
Rodoval Cabral da Trindade.
Basicamente temos as informações que ele era um sargento do Exército Brasileiro, que havia nascido na cidade de Ceará-Mirim e que morreu de um acidente de jipe no dia 6 de junho de 1945, após o final da Guerra na Europa.
Mesmo com dificuldades, conseguimos mais detalhes sobre a vida desse homem e a sua participação nesse conflito. Elas mostram interessantes informações do envolvimento de um potiguar na Segunda Guerra e aprofunda o entendimento sobre aqueles que partiram para lutar na Europa.
Tiro de Guerra 18
Rodoval era filho do funcionário público João Cândido da Trindade, casado com Emília Cabral da Trindade. Tudo indica que o casal era natural da cidade de Ceará-Mirim, onde seu filho Rodoval nasceu em 1909. Ele era um dos nove filhos do casal, sendo seis homens e três mulheres. Não sabemos a data, mas, provavelmente, em algum ano da década de 1920 a família Cabral da Trindade se mudou de Ceará-Mirim para Natal, onde moravam na Rua Laranjeira, número 26, na Cidade Alta, perto da Igreja do Galo.[1]
A antiga e simples residência da família Cabral da Trindade em Natal.
Tudo aponta que essa família era muito católica, pois todos os anos, sempre no mês de abril, Seu João Cândido participava da tradicional e secular Procissão do Encontro. Essa tendência foi seguida pelo seu filho Rodoval, que participou da Congregação Mariana de Moços, tradicional organização católica da cidade. E Seu João tinha de ter mesmo muita fé, pois para sustentar a esposa e nove filhos só possuía os minguados salários do cargo de porteiro do Serviço de Estatística do Estado do Rio Grande do Norte.[2]
Mesmo com as limitações, sabemos também que o jovem Rodoval foi membro do tradicional Centro Náutico e remava com seus amigos no tranquilo e, na época, limpo rio Potengi, certamente competindo com os adversários do Sport Club de Remo.
Outra atividade desse jovem em Natal, que certamente marcou sua vida, foi participar do Tiro de Guerra 18, ou T. G. 18.
Rodoval Cabral da Trindade – Foto gentilmente cedida pelo escritor e pesquisador Durval Lourenço Pereira.
Essa era uma pequena unidade do Exército Brasileiro mantida em parceria com o município de Natal e responsável pela formação de reservistas de segunda categoria do serviço militar. Fundado em 1908, tinha sede no bairro do Alecrim, sendo normalmente comandada por um sargento, ou um tenente, com turmas que variavam anualmente de 35 a 45 rapazes. Esse pessoal fazia muita ordem unida, longas marchas, treinos de tiro ao alvo e desfilava garbosamente na Avenida Deodoro durante as comemorações do 7 de setembro. Entre os participantes ilustres do Tiro de Guerra 18 consta o maestro Waldemar de Almeida [3], que lá esteve na segunda metade da década de 1920. Outro que recebeu a sua carteira de reservista de segunda categoria foi o advogado, professor e político mossoroense Otto de Brito Guerra. Esse último foi contemporâneo do jovem Rodoval Cabral da Trindade quando esteve nessa instituição em 1928. Consta que Otto Guerra participou da marcha de 24 quilômetros, com fuzil no ombro e tudo mais.
O Tiro de Guerra 18 era um lugar onde o esporte era intensamente praticado e incentivado.[4] Um dos feitos esportivos mais marcantes foi ter participado e vencido a primeira competição pública de basquete realizada no Rio Grande do Norte.
Arquibancada coberta do “Stadium” Juvenal Lamartine, onde aconteceu a primeira disputa pública de basquete no Rio Grande do Norte em 1931 e o Tito de Guerra 18, onde Rodoval Cabral serviu ganhou a disputa com o 29º Batalhão de Caçadores.
O fato ocorreu em 1931, em pleno estádio de futebol Juvenal Lamartine, onde improvisaram uma quadra de basquete não sei de que jeito e o Tiro de Guerra 18 venceu a poderosa equipe do 29º Batalhão de Caçadores do Exército Brasileiro. Digo poderosa porque o pessoal do 29º treinava muito e tinha até mesmo à disposição uma quadra de basquete. Mesmo sendo de barro batido essa quadra possuía dimensões oficiais e ficava onde atualmente se encontra o SESC da Cidade Alta. A equipe do 18 era formada, entre titulares e reservas, por Humberto Nesi, Luiz Tavares de Souza, Alberto Gentile, Zacarias Cunha, José Maia Mousinho e Miguel Ferreira da Silva. Esse pessoal era treinado pelo tenente Francisco Antônio do Nascimento, o conhecido “Chicó”, por anos comandante do Tiro de Guerra, e pelo soldado Severino Estevam dos Santos, o “Jaú”. Todo esse pessoal foi contemporâneo de Rodoval.[5]
Caminho da Guerra
Após deixar o Tiro de Guerra 18 temos a informação que Rodoval Cabral da Trindade ou a ser aluno da Escola Técnica de Comércio do professor Ulisses de Góis, que na década de 1930 ficava na Rua João Pessoa, no Centro de Natal [6]. Rodoval se preparava para exercer a função de guarda-livros, ou seja, escriturar e manter em boa ordem os livros mercantis das empresas comerciais. O que hoje chamamos de contadores.
Naquela época esse era o típico trabalho desejado pelas famílias de classe média baixa de Natal. A maior parte delas formada por funcionários públicos de baixo escalão, que recebiam minguados rendimentos e que através de favores políticos entravam aos montes no serviço público estadual.
Certamente pelo tempo e pelas experiências vividas no Tiro de Guerra 18, o jovem Rodoval largou a Escola de Comércio no último ano e se alistou voluntariamente no Exército Brasileiro como soldado. Provavelmente essa sua deliberação não deve ter sido tomada sem rupturas na sua família, pois Rodoval acabava de tomar a decisão de descer voluntariamente os poucos degraus que a sua condição social lhe proporcionava naquela provinciana Natal de pouco menos de 40.000 habitantes e uma elite extremamente preconceituosa e abertamente racista.
Foto de um soldado da Forças Pública, nesse caso de Pernambuco. Nas décadas de 1920 e 1930 os uniformes militares dessas instituições militares estaduais pouco diferiam, sendo sempre na predominante cor cáqui. na imagem vemos o Soldado Heleno Tavares de Freitas – Fonte – Valdir José Nogueira de Moura.
Naqueles dias para ter prestígio como membro das Forças Armadas só sendo oficial, algo para poucos. Já ser um soldado no Exército Brasileiro não era uma situação considerada “desrespeitosa” pela sociedade, mas era o tipo de profissão que, no entendimento geral, só entrava quem não tinha maiores perspectivas, ou por pura vocação. Mas estava um patamar acima da pessoa que era soldado na Força Pública, atual Polícia Militar.
No caso de Rodoval eu acho que foi vocação mesmo, pois ser um guarda-livros em Natal, mesmo com perspectivas salariais baixas, poderia ser um caminho para conseguir através de apadrinhamento político uma sinecura em alguma repartição pública e ter a tão sonhada estabilidade.
A próxima notícia que temos sobre esse potiguar é que ele foi servir bem longe do Rio Grande do Norte. Seguiu para São Paulo, onde esteve aquartelado em unidades militares existentes nas cidades de Jundiaí, Taubaté e Caçapava. Nessa parte do Brasil ele se casou com a jovem Araci Marques da Trindade, mas não tiveram filhos.[7]
Em 1941 encontramos Rodoval servindo no 6º Regimento de Infantaria de Caçapava, com a extinta patente de “primeiro cabo”, sendo promovido em 25 de julho daquele ano ao posto de terceiro sargento, conforme está descrito na notificação existente no Boletim Interno número 171 do Exército Brasileiro.[8]
Nesse meio tempo nuvens negras surgiram no horizonte do Brasil, com o intenso rufar dos tambores de guerra ecoando na Europa e na Ásia. Em 22 de agosto de 1942, após a declaração de guerra do Brasil à Alemanha Nazista e à Itália Fascista, o país entra em mobilização total.
Militares norte-americanos em Parnamirim Field – Fonte – Getty Images
Não sei se através de jornais, ou por contatos com a sua família, Rodoval soube que na cidade onde seus parentes viviam e onde ou grande parte de sua juventude, estava ocorrendo uma intensa mudança. Milhares de militares dos Estados Unidos e do sul do Brasil ocupavam a capital potiguar. Nos céus aeronaves de vários tipos partiam e chegavam diariamente, aproveitando a privilegiada posição estratégica do Rio Grande do Norte em relação ao Atlântico Sul e a costa ocidental africana.
Através de outras pesquisas realizadas pelo autor, descobri que não era raro a transferência para Natal de militares nascidos no Rio Grande do Norte e que se encontravam servindo em outras regiões do país. Isso certamente se destinava a facilitar o entrosamento dos muitos militares brasileiros que desembarcavam em Natal para reforçar as defesas na região. Mas essa situação não aconteceu com o sargento Rodoval.
No começo de 1943 ele recebeu ordens de se apresentar no Quartel General do Exército no Rio de Janeiro, para participar do C. R A. S, sigla do Curso Regional de Aperfeiçoamento de Sargentos.[9] Dois meses depois, Rodoval foi promovido a segundo sargento, junto com outros 21 colegas do 6º Regimento de Infantaria.[10] Em agosto ele concluiu o C. R. A. S. e aguardou novas ordens.[11]
Símbolo da FEB.
Certamente o sargento Rodoval e seus companheiros sentiam que se aproximava a hora de pegar em armas e partir para o front de combate, onde comandariam grupos de soldados destinados a matar o maior número de inimigos, pois era para nisso que treinavam arduamente. Logo o governo brasileiro publicou a Portaria Ministerial nº 4.744, que criava a Força Expedicionária Brasileira, que se tornaria a primeira e única força militar formada na América Latina a lutar na Europa. Rodoval recebeu o número 2-G-87320 para sua identidade militar.
No General Mann
Quase um ano depois, em uma quinta-feira, 29 de junho de 1944, o sargento Rodoval e centenas de companheiros partiram da Vila Militar, na zona oeste do Rio, em um trem da Estrada de Ferro Central do Brasil até o cais da Praça Mauá. Ali começou o embarque dos soldados da FEB no grande navio USS GeneralWilliam Abram Mann (AP-112), ou simplesmente General Mann, como ficou mais conhecido entre nossos soldados.
Força Expedicionária Brasileira embarcando no Rio de Janeiro. Destino – A frente italiana.
Aquela grande nave da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) estava atracada no Píer 10 e era enorme. Pesava mais de 17.000 toneladas, tinha quase 200 metros de comprimento, navegava com a velocidade máxima de 19 nós (35 km/h) e podia transportar 5.000 homens destinados ao combate em qualquer parte do Globo. A grande nave era comandada pelo capitão Paul Sylvester Maguire.
Ao redor do porto havia muita segurança e isolamento. Gente de toda parte do país, com seus sotaques, cores, trejeitos e maneiras próprias entraram na grande nave carregando sacos de lona. O general Mascarenhas de Moraes, o comandante da FEB, embarcou para o exterior junto com 5.074 homens que formavam o 1º Escalão de combatentes.
Navio transporte de tropas USS General W. A. Mann. Em 1944 ele levou os primeiros combatentes da FEB para a Itália.
Mascarenhas de Morais listou as primeiras unidades da FEB transportadas no General Mann – Escalão Avançado do Quartel General da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), Estado Maior da Infantaria Divisionária da 1ª DIE, 6º Regimento de Infantaria, 4ª Companhia e 1º Pelotão de Metralhadoras do 11º Regimento de Infantaria, II Grupo do 1º Regimento de Obuses Auto Rebocados, 1ª Companhia do 9º Batalhão de Engenharia, uma parte da Seção de Suprimento e Manutenção do 9º Batalhão de Engenharia, 1º Pelotão do Esquadrão de Reconhecimento, Seção de Exploração e elementos da Seção de Comando da 1ª Companhia de Transmissões, 1ª Companhia de Evacuação, o Pelotão de Tratamento e elementos da Seção de Comando, todos do 1º Batalhão de Saúde, Companhia de Manutenção, Pelotão de Polícia Militar, um pelotão de viaturas, uma Seção do Pelotão de Serviços e elementos da Seção de Comando da 1ª Companhia de Intendência, o Correio Regulador, o Depósito de Intendência, a Pagadoria Fixa, os jornalistas que iriam trabalhar como correspondentes de guerra, elementos do Hospital Primário, Serviço de Justiça e o pessoal do Banco do Brasil.[12]
Militar brasileiro de patente elevada ando em ordem a guarda de Fuzileiros navais (Marines) a bordo do General Mann. Eram estes fuzileiros que mantinha a ordem a bordo.
Não sabemos quantos, mas temos a certeza que o sargento Rodoval Cabral da Trindade não era o único potiguar a bordo do General Mann. Outro Norte-rio-grandense era o soldado João Alves Coelho, nascido em 1923 e que em 1940 havia seguido para o Rio de Janeiro com o intuito de aprender uma profissão para melhorar a sua vida e a de sua família. Ele estudou mecânica na então Capital Federal, quando foi convocado para a guerra como integrante da FEB. Foi incorporado na Companhia de Manutenção, onde praticou extensamente a profissão que aprendeu no Rio. Não sabemos se o sargento Rodoval e o soldado Coelho se conheceram.[13]
No domingo, 2 de julho, às cinco e quarenta e três da manhã, o General Mann desatracou e partiu. Nos próximos quatorze dias a nave seguiria pelo Oceano Atlântico e pelo Mar Mediterrâneo a velocidade média de 17 nós e sempre ziguezagueando para evitar ataques de submarinos. Inicialmente essa nave americana foi escoltada pelos destroieres brasileiros Marcílio Dias, Greenhalgh e Mariz e Barros.[14]
A chegada no Porto de Nápoles, sul da Itália, ocorreu no dia 16 de julho, às 12:20 horas, também num domingo. No cais havia um destacamento norte-americano de quarenta e cinco homens e uma banda para as honras militares.
A guerra para a FEB estava começando!
Um Líder Controverso
Desembarque da FEB em Nápoles em 1944.
Após o desembarque em Nápoles, a FEB ficou acampada no subúrbio da cidade, na região de Agnaro/Bagnoli, perto do mar. O interessante foi que eles acamparam dentro da cratera do extinto vulcão Astroni, cujas bordas possuem 70 metros de altura e atualmente é uma área de preservação. Nessa cratera a temperatura variou bastante, com picos de elevação durante o dia de 30 graus à sombra e a noite descendo para terríveis 10 graus. O contingente brasileiro logo se mudou desse local complicado e ficou aguardando receber seus equipamentos de combate e suas viaturas.
Veículos da FEB prontos para serem entregues em 1944.
Um dia, em 19 de agosto, enquanto recebeiam seus apetrechos e mais de 220 veículos de todos os tipos, quem deu uma adinha para dar um alô a brasileirada foi ninguém menos que Sir Winston Churchill, primeiro ministro do Reino Unido e um dos principais líderes Aliados. A ilustre figura estava inspecionando as tropas do 5º Exército dos Estados Unidos (US Army), sob o comando do tenente-general Mark Clark. O contingente da FEB fazia parte do 5º Exército e o general Mascarenhas de Morais respondia a Clark, um militar tido como controverso, planejador débil, líder fraco, além de ser considerado um “caçador de publicidade” e com extrema aversão aos seus aliados ingleses.
Mas o fato que pesou mais negativamente na biografia de Mark Clark durante a Segunda Guerra ocorreu em junho de 1944, durante a chamada Operação Diadem (Diadema).
O mais alto na foto é Mark Clark e o mais baixo Mascarenhas de Moraes.
Comandada pelo general inglês Sir Harold Alexander, líder do 8º Exército Britânico, essa operação consistia em um cerco aos alemães, com o objetivo de fazer com que as forças inimigas ficassem amarradas na Itália e não pudessem ser redistribuídas para a França. O problema foi que para muitos Clark não comandou corretamente o seu 5º Exército, o que permitiu que o 10º Exército Alemão escae do cerco. Para piorar a situação pesa sobre Mark Clark a acusação de que ele priorizou tomar Roma (o que realizou com relativa facilidade) em uma tentativa de ganhar a glória marcial imortal. Consta que ele desejava ser o primeiro general a “tomar Roma pelo sul em 1.500 anos”. Se assim foi, Clark recebeu apenas um dia de publicidade por dominar a “Cidade Eterna”, pois após a sua conquista ocorreu o grande desembarque Aliado na França, o famoso “Dia D”, e sua glória foi totalmente ofuscada.[15]
Para os soldados da FEB essas tricas e futricas de altos comandantes pouco importava. Importava mesmo era quando entrariam em combate e, principalmente, fazer tudo para voltarem vivos para o Brasil.
Encarando a Linha Gótica
Na noite de 15 para 16 de setembro o contingente do 6º Regimento de Infantaria, comandado pelo coronel João de Segadas Viana substituiu na frente de combate o 434th Antiaircraft Artillery Automatic Weapons Battalion (434th AAA-AW Bn), ou 434º Batalhão de Armas Automáticas de Artilharia Antiaérea, que foi convertido em batalhão de infantaria. Ficou sob a responsabilidade dos brasileiros uma frente de combate de uns 4.500 a 4.800 metros.
Símbolo da 232a Infantariedivision der Wehrmacht, ou 232º Divisão de Infantaria do exército nazista.
Os pessoal da FEB naquele setor eram inferiores a 900 homens e seus comandantes sabiam que a sua frente estavam elementos da 232a Infantariedivision der Wehrmacht, ou a 232º Divisão de Infantaria do exército nazista. Unidade comandada pelo generalleutnant (tenente-general) Eccard Freiherr von Gablenz, um veterano das campanhas da Polônia, França e da invasão da União Soviética, onde combateu nesta última área de 1941 a 43 e ele escapou por pouco do cerco realizado pelos soviéticos na Batalha de Stalingrado. Von Gablenz estava comandando a 232 na Itália desde o primeiro semestre de 1944 e junto a essa divisão estavam unidades militares formada por italianos favoráveis aos alemães.
O círculo negro mostra a área de atuação da FEB nos primeiros meses de combate na Itália.
A partir desse ponto o avanço brasileiro colidiu com um setor da chamada Linha Gótica, a última linha de defesa inimiga na Itália.[16]
Em agosto de 1944 as forças alemãs estavam há mais de dois anos travando uma guerra defensiva e se retirando para o norte da Itália. Foi quando decidiram criar a linha defensiva chamada Gótica, que atravessava o país de um lado ao outro, desde o mar da Ligúria até o mar Adriático, aproveitando o terreno montanhoso e assim deter seus inimigos. Os alemães esperavam que a defesa da cordilheira dos Apeninos negasse aos Aliados a vantagem tática que significaria a conquista do Vale do Pó, pois ali ficavam as cidades de Bolonha, Modena e Milão, além das ricas terras agrícolas que forneciam grande parte dos alimentos. Para reforçar a Linha Gótica os alemães construíram muitos baluartes de defesa.
Foto ilustrativa que mostra o terreno de luta da FEB, nesse caso na região de Montese.
Os brasileiros do 6º Regimento de Infantaria atuavam intensamente a linha de frente, onde seus homens foram gradativamente ganhando experiência. Sofriam e infligiam baixas, mas a FEB ganhava terreno. Em 16 de setembro os brasileiros conquistaram as localidades de Massarosa e no dia seguinte Camaiori.
No início de outubro, com o frio aumentando pela iminente chegada do inverno, o 6º de Infantaria foi deslocado para o vale do rio Serchio, ao norte da cidade de Lucca. Nessa área as operações começaram no dia 6 e aos soldados da FEB foi ordenado lutar e ocupar pequenas comunidades e elevações, que eram chamadas “Cotas” e recebiam um número. O 6º Regimento de Infantaria atacou um setor defendido pelos italianos da 4ª Divisione Alpina Monterosa, formada pelos batalhões Bergamo, Aosta e Bréscia e comandadas pelo general Mario Caloni, que seis meses depois se renderia aos brasileiros da FEB.[17]
Símbolo da Divisão Monterosa.
Os combatentes sul-americanos avançaram para o norte por treze quilômetros, onde atravessaram o riacho Lima em Bagni di Lucca, cerca de vinte quilômetros ao norte da cidade de Lucca. Já os italianos, mostrando pouca ânsia de se levantar e lutar, recuaram lentamente para a solidez das altas montanhas que conheciam tão bem. No dia 11 de outubro a FEB capturou as cidades de Barga e Gallicano.
Ao completar um mês da entrada do 6º Regimento na área de combate, a imprensa nacional divulgou que os soldados brasileiros haviam avançado 28 quilômetros para o norte, conquistando do inimigo uma área de 273 Km², onde viviam mais de 100.000 pessoas, em sete cidades e vinte e três vilas. Não sabemos o grau de envolvimento do sargento Rodoval nessa fase da luta, mas o seu regimento participou ativamente desses combates, como ponta de lança da FEB.[18]
A aldeia medieval de San Quirico, município de Pescia, província de Pistoia, região da Toscana. Itália.
Daí então, entre os dias 12 e 30 de outubro, os brasileiros conquistaram várias outras vilas e pequenas aglomerações urbanas italianas, entre elas um lugar chamado San Quirico, que caiu no dia 30 de outubro de 1944, no começo da tarde. O lugarejo era defendido pelos italianos do batalhão Aosta, da divisão Monterosa, mas não ofereceram muita resistência.[19]
O Massacre na Aldeia Medieval
O sargento Rodoval Cabral da Trindade estava entre os brasileiros que ocuparam San Quirico. O correspondente de guerra Sílvio Fonseca, enviado da Agência Nacional junto a FEB, comentou que em 31 de outubro de 1944 os militares do 6º Regimento de Infantaria conquistaram “La Rochette, Lama di Soto e Pradoscello”, entre outras localidades que se localizavam nas proximidades do rio Serchio. Informou também que outros soldados “mais a oeste, apoderaram-se de San Quirico”. Era a tropa que o potiguar Rodoval fazia parte.[20]
Soldados brasileiros encarando o frio italiano com a ajuda de um aquecedor à lenha.
Ao chegar em San Quirico estava frio e chovia, com a temperatura caindo para uns 10 ou 12 graus com a chegada da noite. A tropa brasileira estava cansada após vários dias de lutas e avanços pelas elevações daquela região da Toscana. É provável que a antiga igreja e o fato da maioria das casas estarem queimadas, tenha chamado a atenção de Rodoval e seus colegas. Mas o que importava naquele momento era consolidar a conquista do lugar, comer algo, descansar e seguir adiante.
Acredito que eles então se dirigiram para uma das poucas casas que não estavam queimadas e se acomodaram. Também é provável que sobre aquela pequena comunidade e seu montanhoso entorno, o potiguar só soubesse informações militares. Enfim, a vila e a região eram muito parecidas com outras tantas vilas e montanhas que ele vinha combatendo e ocupando no último mês junto com seus companheiros. Mas talvez Rodoval se espantasse ao saber o quanto aquele lugarejo era antigo.
A igreja de San Quirico, com seus mais de 10 séculos de construida.
Quando a primeira notícia oficial e conhecida sobre San Quirico foi publicada, um pequeno texto sobre os bens da “Ecclesia S.Quirici de Arriano“, somente 520 anos depois o navegador luso Pedro Álvares Cabral colocaria seus pés nas belas praias de Porto Seguro.[21]
Atualmente San Quirico pertence ao município de Pescia, na província de Pistoia, região da Toscana. Está fincada no alto de um monte com quase 550 metros de altitude e foi um lugar que presenciou guerras, agem de exércitos em luta, pestes, terremotos, secas, enchentes e muito mais. É um lugar conhecido por ali ter vivido famílias que se especializaram na fabricação de sinos, sendo respeitados em toda a península italiana. Sua arte remonta à Idade Média, onde em algumas casas do lugarejo ainda é possível ver lagartos esculpidos em pedra, símbolo desta arte na Itália. É um testemunho da presença de tais mestres, sendo os mais conhecidos pertencentes às famílias Angeli, Fontana e Magni.[22]
Rua em San Quirico.
Durante a Segunda Guerra Mundial, dois meses antes da FEB chegar a essa vila medieval e do potiguar Rodoval ter combatido nas suas ruas, San Quirico viveu uma tragédia, quando foi palco de um dos muitos massacres perpetrados pelos alemães contra os civis italianos.
A coisa toda começou assim – Na noite de 7 de agosto de 1944, dois oficiais alemães foram convidados para jantar em uma casa da aldeia e tudo parecia estar indo bem. Por volta das 11 da noite, quando retornavam ao seu acampamento, eles foram mortos. Para alguns foi obra de guerrilheiros italianos que lutavam contra a ocupação alemã, os chamados “Partigiani”, mas outras fontes apontam que os atiradores seriam seis soldados alemães desertores e um deles, chamado Franz, foi quem matou os oficiais. Independentemente disso, a resposta alemã não se fez esperar!
Outra vista da vila.
Naquela época os nazistas deixaram claro que para cada alemão morto, dez italianos pagariam com a vida. Na manhã do dia 19, muitos soldados da 65º Divisão de Infantaria da Wehrmacht chegaram a San Quirico e cercaram a aldeia[23]. Aos gritos, empurrões e muita violência mandaram todos sair das casas somente com a roupa do corpo e começaram a saquear e queimar praticamente todo o pequeno burgo, deixando de incinerar umas poucas casas e a igreja milenar. Roubaram gado, objetos de valor, os melhores móveis, roupas de cama e provisões. As antigas casas da vila de ruas apertadas arderam fortemente. Às quatro da tarde os nazistas separaram da população detida um grupo de velhos, doentes e mulheres, que imaginaram o pior para eles, pois todos foram obrigados a abrir uma grande cova coletiva no cemitério local.
San Quirico e as montanhas do seu entorno.
Mas o comandante alemão informou ao pároco Dom Vicenzo del Chiaro que seriam fuzilados vinte homens detidos pela manhã, na estrada que ligava a localidade de Pietrabuona até a cidade de Pescia. Eram pessoas de várias vilas da Toscana que, depois de serem obrigadas a trabalhar para os alemães no reforço de fortificações da Linha Gótica, foram libertadas e voltavam para suas casas, quando foram novamente detidas. Esse grupo foi conduzido para perto do cemitério de San Quirico em um caminhão. No local da execução um dos presos tentou escapar, mas foi perseguido e morto. Os dezenove restantes foram divididos em três grupos e sumariamente fuzilados. Hoje um desses infelizes ainda repousa neste campo santo e, para se ter uma ideia do nível de destruição em San Quirico, provocado pelos nazistas naquele 19 de agosto de 1944, ainda na década de 1970 cerca de 50% das casas do lugar estavam destruídas e enegrecidas.[24]
Monumento existente em San Quirico para homenagear os vinte fuzilados de 19 de agosto de 1944.
Enquanto os cansados oficiais e praças brasileiros do 16º Regimento de Infantaria encontraram abrigo do frio da noite nas casas de San Quirico, na madrugada os alemães e italianos contra-atacaram os brasileiros sem dó e nem piedade!
O Duro Combate de San Quirico
Em 2012, quando se comemorou os 70 anos da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, o jornalista Marcelo Godoy participou de uma série de reportagens do jornal paulista Estadão sobre a participação brasileira nesse conflito. Ele escreveu um interessante material sobre o combate de San Quirico – “Os brasileiros dormiam, quando começaram a ouvir vozes na madrugada fria. Eram do inimigo. De repente, um tiro de carabina. A bala tombou um alemão que descia a colina em direção à ravina atrás da casa dos brasileiros. Atratino Côrtes Coutinho, comandante da 1.ª Companhia de Petrechos Pesados (PI), foi o autor do disparo que instalou o inferno na paisagem. A resposta veio das metralhadoras alemãs. Tiros encurralaram o capitão e sua tropa. Havia uma única saída: fugir pela janela dos fundos. Todos aram. Chegou a vez do tenente José Maria Pinto Duarte. Ao pular, balas lhe alcançaram o corpo. Uma rajada apanhou o tenente no ar. Os tiros do inimigo não permitiram que o corpo do oficial fosse resgatado e enterrado. “O Atratino tentava arrastar, mas ele (Duarte) era muito alto, pesado, era difícil… Lembro quando (Duarte) falou: “Cuidem bem da minha filha’, como uma súplica”, diz João Gonzales, de 92 anos (em 2012), na época da guerra um terceiro sargento. Atratino não se conformava. Montou duas patrulhas para encontrar o corpo. Sem sucesso. Cansado, escreveu: “O moral da tropa foi abalado pelos insucessos causados pelo contra-ataque inimigo”. A ideia de que era preciso enterrar Duarte atormentaria o capitão até o fim da guerra”.[25]
Soldados da FEB em posição de combate.
Outro oficial da FEB presente ao confronto de San Quirico foi o então capitão Moziul Moreira Lima, que deixou o seguinte registro – “O Destacamento da FEB conquistou Barga e tentou conquistar as alturas dos Montes Quíricos (SIC) e infelizmente essa tentativa terminou em revés sério e serviu-nos como um grande ensinamento. Casualmente eu estava lá, junto do comandante do 1º Batalhão do 6º RI (Regimento de Infantaria), Major João Carlos Gross, meu grande amigo. A ordem fora conquistar aquelas alturas. Era uma conquista difícil, um terreno escarpado e o Comandante do Batalhão foi comigo ao Quartel-General pedir que ficasse à disposição da Unidade, uma Companhia de muares, porque ele achava difícil levar munição e alimento quando estivéssemos lá na crista do monte.
Poder de fogo de um militar da FEB com uma submetralahdora M3 “Grease Gun” e fitas de munição. Foi apontado para o autor desse texto que o militar da foto seria o sargento Rodoval Cabral da Trindade, mas sem confirmação.
Foi prometida essa Companhia de muares, mas a mesma não nos foi fornecida e com muito sacrifício o Batalhão conquistou aquela posição. Pela experiência que tínhamos das nossas guerras, quando escurecia as operações paravam e, conquistada a posição, o pessoal se preparava apenas para ar a noite. Pois nessa noite o alemão desencadeou um contra-ataque com uma Unidade de Choque, especializada em ataques noturnos. Essa Unidade veio em cima do flanco esquerdo do nosso dispositivo e fomos tomados de surpresa, inesperadamente e sem a munição necessária. Foi uma surpresa total, o Batalhão começou a recuar pelo flanco esquerdo e foi nessa ocasião que morreu o tenente Pinto Duarte. Dois oficiais se atiraram por uma janela para não caírem prisioneiros, ele e o capitão Atratino, que era o Comandante da Companhia. O tenente foi ferido numa perna e na barriga e não conseguia se locomover, o Atratino procurou carregá-lo, mas não conseguiu e o corpo teve que ficar insepulto naquele local. Com esse revés ficou evidente que deveríamos nos reajustar muito rapidamente ao modo de combater de elementos que já tinham no mínimo cinco anos de experiência de guerra, enquanto estávamos começando a adquirir a nossa naqueles combates” [26].
Tropa do 2º Pelotão, da 8º Companhia, do 6º Regimento de Infantaria da FEB. É provável que alguns dos fotografados estiveram no combate de San Quirico – Foto devidamente cedida pelo Museu da Imagem e do Som da Associação Nacional da FEB.
O então capitão Hélio Portocarrero de Castro foi outro oficial da FEB que lutou em San Quirico naquela madrugada e deixou o seguinte registro – “Cheguei no 2º Escalão e, logo em seguida, fui designado para assumir o Comando da 7ª Companhia, 3º Batalhão do referido 6º Regimento de Infantaria. Não tive nenhuma adaptação. Segui direto, assumi o comando num ataque ao Morro de San Quirico. Foi um batismo de fogo sui-generis. Ataquei e fui contra-atacado violentamente pelos alemães. Eles avançavam gritando Heil Hitler! Portavam suas “lurdinhas” (apelido), excelentes metralhadoras de mão, com uma violenta cadência de tiro. Suas rajadas se assemelhavam a uma gargalhada. Algum soldado brasileiro colocou esse apelido nessa arma e pegou. Toda a FEB a designava pelo nome de “lurdinha”. [27]
Soldados da FEB.
O soldado José Otaviano Soares, que morava na rua Dr. Betim, 315, Vila Marieta, em Campinas, São Paulo, tempos depois comentou ao correspondente de guerra americano Henry Bagley, da Associated Press, que naquela madrugada estava com outros dezesseis companheiros da 8º Companhia, do 16º Regimento de Infantaria, quando “capturaram uma casa na aldeia de San Quirico, ao norte de Barga, no vale do rio Serchio, mas os alemães contra-atacaram pela madrugada de 31 de outubro. O inimigo concentrou um fogo de morteiro e metralhadoras contra a casa, matando um e ferindo oito, inclusive José Soares, que foi ferido por estilhaço de morteiro desde o pé ao ombro esquerdo, bem como dois fragmentos maiores na perna direita”. José Soares foi capturado bastante ferido, mas se recuperou em um campo de prisioneiros na Itália, de onde foi libertado ao final do conflito. Ao retornar ao encontro da sua tropa, concedeu essa entrevista a Henry Bagley[28].
Foto ilustrativa de soldados da FEB em uma cidade italiana e sobre um veículo de combate.
O que sabemos da participação do sargento Rodoval são informações muito limitadas, mas é certo que durante o tiroteio o seu pelotão recuou de sua posição original, talvez a mesma casa onde estava o capitão Atratino, ou alguma outra que foi “requisitada” para descanso. É provável que Rodoval tenha continuado na casa para cobrir a retirada dos seus companheiros. A vivenda foi então cercada pelos alemães. Tudo indica que o potiguar, mesmo com sua munição escasseando, ficou na casa até o último disparo. Os registros existentes não explicam como, mas Rodoval manteve a calma e de alguma forma conseguiu romper o cerco para retornar as linhas brasileiras. Sabemos que na madrugada de 31 de outubro de 1944 predominava a lua cheia no norte da Itália, o que possibilitou aos participantes daquele combate vantagens e desvantagens. Talvez o sargento potiguar tenha utilizado o luar para sair vivo daquela complicada situação. Ao sobreviver a esse combate Rodoval foi agraciado com a medalha da Cruz de Combate de 2ª Classe, destinada a participantes de feitos excepcionais praticados em conjunto por vários militares.[29]
Para Sílvio Fonseca a localidade de San Quirico era “uma importante posição dominante que os alemães tentaram inutilmente conservar em seu poder”. Tanto era importante que os nazistas e fascistas executaram o contra-ataque. O jornalista informou que os brasileiros resistiram a três investidas dos inimigos, mas na quarta recuaram.[30]
O complicado terreno de luta da FEB na Itália.
Segundo a falecida historiadora paranaense Carmen Lúcia Rigoni, na página 122 de sua interessante tese de mestrado intitulada La forza di spedizione brasiliana” (FEB) – Memória e história: Marcos na monumentalistica italiana, defendida 2003 na Universidade Federal do Paraná, informou que no momento da ocupação de San Quirico pelos membros da FEB o ambiente entre eles era de “otimismo”. Contudo a autora aponta, através de relatos de participantes, que “ninguém no comando se apercebia de que os combatentes estavam no limite e o cansaço era extremo”. A autora também conseguiu a informação que o “otimismo exacerbado e a subestimação do inimigo” estavam na ordem do dia dos brasileiros. E continua Carmen Lúcia Rigoni – “Segundo as narrativas de diversos veteranos, a frente de combate era muito extensa e o terreno criava todo o tipo de dificuldades, em razão da topografia ser acidentada, e era de difícil o. O transporte de víveres e munição para a tropa, debaixo de chuva, comprometia as reservas, entre outras questões afeitas ao comando” (Pág. 122).
Soldados da FEB.
Em outra parte do seu trabalho Carmen Lúcia Rigoni comentou o final da luta – “Diante das intempéries climáticas daquela jornada e da falta de munição e mais a desorganização do comando, a FEB se retira, deixando sobre o terreno mortos, feridos e muitos prisioneiros. As brigadas italianas sofreram também pesadas baixas. Os mortos e prisioneiros do efetivo de 200 homens da Companhia Aosta somaram-se mais de 80 homens” (pág. 126).
Como um jornal dos Estados Unidos comentou as vitórias da FEB em outubro de 1944.
A Morte em Voghera
A partir desse momento da história da FEB na Itália não consegui encontrar mais nenhuma referência sobre o sargento Rodoval Cabral da Trindade.
Soldados da FEB em uma aparente comemoração, com instrumentos musicais em um caminhão de transporte. Talvez algo alusivo ao final da guerra.
Finalmente a Guerra na Europa se encerra em 8 de maio de 1945 e a Força Expedicionária Brasileira se preparava para retornar ao Brasil. É quando o sargento Rodoval morre em um acidente de jeep em Voghera, uma cidade ao norte de Gênova, no dia 6 de junho de 1945. Das causas e razões do acidente automobilístico não consegui nenhuma informação.
Apenas descobri que Rodoval não foi o primeiro membro da FEB a morrer nessa estrada. No dia 8 de maio de 1945, no Dia da Vitória, e praticamente um mês antes da morte de Rodoval, o segundo sargento Fábio Pavani, de Capivari, São Paulo, faleceu ao cair da viatura em que estava se deslocando na mesma estrada de Voghera. Segundo a listagem de mortos da FEB, encontrada no texto intitulado Lista detalhada e ilustrada dos mortos da Força Expedicionária Brasileira na Campanha da Itália, constam os nomes de 34 militares que morreram em acidentes de veículos [31].
Para o pesquisador Durval Lourenço Pereira, essa situação ocorreu por várias razões. Desde a imperícia pura e simples dos motoristas da FEB, a complicada situação das estradas italianas, nevoeiro, fadiga, lama, neve, stress por dirigir em zona de guerra e outras mais.
Notícia da morte do sargento Rodoval em jornal de Natal.
Em Natal a notícia foi divulgada com bom espaço nos três principais jornais da cidade – A República, A Ordem e O Diário. A única rádio da cidade, a REN – Rádio Educadora de Natal, noticiou extensivamente o falecimento do sargento Rodoval. Vários membros da comunidade foram pessoalmente até a casa da família externar os pêsames pelo ocorrido. Já o tenente coronel Edgar Alves Maia e o Dr. Jacob Wolfson, oftalmologista de renome e um dos líderes da comunidade judaica natalense, foram até a casa da família Cabral da Trindade levar o apoio da Comissão de Homenagem, Assistência e Recepção à FEB.[32]
Cemitério de Pistoia e o enterro de um combatente da FEB.
O corpo do sargento Rodoval Cabral da Trindade foi primeiramente sepultado no Cemitério Militar Brasileiro de Pistoia, na quadra D, fileira nº 1, sepultura nº 5. Depois seus restos foram transladado para o Rio de Janeiro, onde repousam no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo. No Rio Grande do Norte ele é lembrado com seu nome em uma rua em Ceará-Mirim e outra em Natal. Na capital essa artéria fica na Cidade Alta, vizinho a Igreja do Galo e perto de onde ele viveu.
Pessoalmente a história do sargento Rodoval me traz maravilhosas lembranças do meu tio-avô Luís de França Moraes, o nosso poeta e um devotado funcionário dos Correios e Telégrafos.
Ainda garoto, foi dele que ouvi pela primeira vez os fatos ligados ao sargento Rodoval, até porque tio Luís moravam na Rua Laranjeira, número 18, a poucos metros da casa de Seu João Cândido da Trindade. Ele conheceu Rodoval, foi um dos que foram à casa de seu pai dar os pêsames pelo seu falecimento na Itália, esteve no enterro de Seu João em 1957 e chegou a trabalhar nos Correios e Telégrafos com José Augusto, Clotilde e Margarida, todos irmãos de Rodoval. Eu era muito jovem quando ouvi seu relato, mas jamais esqueci quando ele me narrou do orgulho que ele e todo o pessoal da Rua Laranjeira ficou ao saber que Rodoval tinha ido para a Guerra e da enorme tristeza que se abateu com a notícia da sua morte.
NOTAS
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[1] Ver O Poti, Natal-RN, ed. 06/07/1957, sábado, pág. 3.
[2] Ver A Ordem, Natal-RN, ed. 14/03/1940, quinta-feira, pág. 2. Não encontramos nenhuma outra indicação de fonte de renda desse funcionário público para sustentar sua família.
[3] Ver Galvão, Claudio. O nosso maestro: biografia de Waldemar de Almeida – Natal, EDUFRN, 2019, pág. 97.
[4] O antigo Tiro de Guerra 18 não existe mais, contudo esse tipo de organização é bastante presente em outros estados brasileiros e no Rio Grande do Norte ainda existe um em Mossoró, com mais de 120 anos de atuação.
[5] Ver O Poti, Natal-RN, ed. 09/08/1981, domingo, pág. 14.
[6] A Escola Técnica de Comércio foi fundada em 1919 pelo professor Ulysses de Góis. Em dezembro de 1950 essa escola se mudou da Rua João Pessoa para a Avenida Junqueira Aires, 390, na Ribeira e serviu de embrião para a criação da Faculdade de Ciências Contábeis e Atuariais de Natal em 1957.
[7] Ver A Ordem, Natal-RN, ed. 17/07/1945, quarta-feira, pág. 4.
[8] Ver Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 26/07/1941, sábado, pág. 10.
[9] Ver Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 17/01/1943, domingo, pág. 14. A ordem veio através do Boletim Interno nº 13, de 16/01/1943.
[10] Ver Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 16/03/1943, terça-feira, pág. 6. A ordem veio através do Boletim Interno nº 62, de 15/03/1943.
[11] Ver Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 14/08/1943, sábado, pág. 8.
[12] Enciclopédia da II Guerra Mundial, Editora Globo, Livro VI, páginas 285 e 286, 2ª edição, 1956.
[13] Informações transmitidas oralmente por José Renato Coelho ao autor. Renato é filho do soldado Coelho, já falecido.
[14] Diário de bordo do USS General A. W. Mann, 2 de julho de 1944, pág. 2.
[17] A divisão Monterosa nasceu em 1 de janeiro de 1944 em Pavia, mas foi mobilizada apenas em 15 de fevereiro do mesmo ano. Em 16 de julho Benito Mussolini entregou a bandeira aos regimentos em Münsingen, Alemanha, no final do período de treinamento realizado com padrões germânicos. Era composta por cerca de 20.000 homens, dos quais 20% provenientes do Exército Real Italiano, que se rendeu aos Aliados em 1943. Foi criado pelos líderes fascistas da chamada República Social para combater nas montanhas ao lado do exército alemão e suas armas vieram dos armazéns da Wehrmacht. A divisão voltou à Itália em julho de 1944 e ficou na área da Ligúria, para neutralizar um possível desembarque das forças aliadas. Posteriormente foi transferido para a Garfagnana entre o rio Serchio e os Alpes Apuanos, combatendo as unidades brasileiras da FEB e outras forças do 5º Exército.
[18] Ver A Noite, Rio de Janeiro, ed. 27/04/1946, sábado, pág. 8.
[19] Segundo o ótimo material produzido pelo escritor e pesquisador Durval Lourenço Pereira, que apresenta um interessante e didático roteiro do avanço da FEB, os locais e as datas das conquistas da foram as seguintes – 11/10/1944 – Ocupação de Barga e Gallicano; 24.10.1944 – Ocupação de Sommocolonia; 25.10.1944 – Ocupação de Trassilico e Verni; 28.10.1944 – Captura de Monte Facto; 29.10.1944 – Ocupação de Colomini; 30.10.1944 – Conquista de San Quirico, Lama di Sotto, Lama di Sopra, Pradoscello e Pian de Los Rios. Ver https://memorialdafeb.com/2012/05/15/roteiro-da-feb-na-italia-o-destacamento-feb2/
[20] Ver Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 02/11/1944, quinta-feira, pág. 1
[21] No entorno de San Quirico já foram encontrados marcos do Império Romano e até ferramentas do neolítico, que apontam uma antiguidade muito mais ampla.
[23] Na área de operações da 65ª Divisão foram identificados 26 atos separados de violência onde civis italianos foram sumariamente mortos. Em junho de 1944 aconteceram cinco massacres (18 vítimas), três em julho (22 vítimas), nove em agosto (42 vítimas, entre estas as de San Quirico), oito em setembro (125 vítimas, o pior mês) e um em outubro de 1944 (2 vítimas). Entre 28 e 30 de setembro, em Ronchidoso, na região da Emilia-Romagna, foram executados 66 civis pelos homens da 65º Divisão, que nesse caso atuaram juntos com membros da 42ª Divisão Jäger. Várias dessas execuções foram represálias precipitadas pela morte de soldados alemães por guerrilheiros do movimento de resistência italiano, que surgiu no norte da Itália para se opor ao estado fantoche fascista. Mas os revisores dessas histórias, muitos deles neonazistas disfarçados de pesquisadores, comentam que muitos dos relatórios carecem de evidências dos perpetradores específicos. Minimizam que esses relatórios apenas apontam que os assassinatos ocorreram na área de operações da 65ª Divisão. Pode até ser que esses argumentos sejam verdadeiros, mas fica difícil justificar que ao longo de cinco meses, na área de atuação dessa divisão, ocorreram 26 massacres de gente detida e desarmada, com um total de 205 vítimas. Ver – https://en.wikipedia.org/wiki/65th_Infantry_Division_(Wehrmacht)#Partisan_warfare_and_alleged_war_crimes
[26] História oral do Exército na Segunda Guerra Mundial / Coordenação geral de Aricildes de Moraes Motta. – Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2001. T. 3. Págs. 56 e 57. O capitão Moziul Moreira Lima era gaúcho de Cruz Alta e alcançaria o posto de general de brigada do Exército Brasileiro.
[27] História oral do Exército na Segunda Guerra Mundial / Coordenação geral de Aricildes de Moraes Motta. – Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2001. T. 4. Págs. 70 e 71. O capitão Hélio Portocarrero de Castro era natural da cidade do Rio de Janeiro e alcançaria o posto de divisão do Exército Brasileiro.
[28] Ver O Jornal, Rio de Janeiro, ed. 30/05/1945, quarta-feira, pág. 8.
[29] Sobre a atribuição dessa medalha e sobre os 68 sargentos do Exército Brasileiro mortos na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, ver o interessante trabalho Os 68 sargentos mortos em operações de guerra, do coronel Cláudio Moreira Bento, em http://www.ahimtb.org.br
[30] Ver Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 02/11/1944, quinta-feira, pág. 1
O mais correto seria dizer que o Brasil conseguiu grandes vitórias em pequenas batalhas da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A Força Expedicionária Brasileira (FEB) entrou em combate na Europa a partir do segundo semestre de 1944. Do lado dos aliados (Inglaterra, França, União Soviética e Estados Unidos), a FEB enfrentou as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) em território italiano, no chamado front do mediterrâneo. “Tivemos duas importantes vitórias em pequenas batalhas: Monte Castelo, em fevereiro de 1945, e Montese, em abril de 1945”, afirma o historiador Vágner Camilo Alves, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
Se alguém duvida de que essas batalhas foram secundárias no contexto geral da Segunda Guerra, basta analisar o efetivo brasileiro em ação. A FEB participou do conflito com apenas uma divisão de infantaria, enquanto só no front do Mediterrâneo os aliados contavam com um total de 23 divisões.
Aqui no Brasil, propagandas ufanistas, principalmente na época do governo militar (1964-1985), criaram a impressão de que a conquista de Monte Castelo – montanha da cordilheira apenina, no norte da Itália – foi uma batalha fundamental na Segunda Guerra.
Apesar dessas ressalvas sobre a real dimensão de nossas vitórias, a atuação dos soldados brasileiros foi heróica. Mesmo mal treinados, com equipamento inadequado e enfrentando um frio de até 15 ºC negativos, eles conseguiram derrotar as forças alemãs que estavam entrincheiradas no alto do monte Castelo.
A ação brasileira fez parte de uma ofensiva maior de todo o IV Corpo do Exército dos Estados Unidos – do qual a FEB era uma das divisões. O resultado dessas operações conjuntas foi a expulsão dos alemães dos montes Apeninos, permitindo uma ofensiva dos aliados no norte da Itália que marcaria o fim dos confrontos no país.
Guerra no morroTropas brasileiras enfrentaram até “fogo amigo” para conquistar Monte Castelo.
A FEB já havia tentado tomar o monte Castelo três vezes no fim de 1944, acumulando cerca de 400 mortos e feridos. Na noite de 20 de fevereiro de 1945, a artilharia brasileira bombardeia os alemães posicionados na montanha dando início à quarta tentativa. Cinco ou seis caça-bombardeiros, possivelmente do esquadrão “Senta Pua”, metralham os alemães
Na manhã do dia 21, três batalhões de infantaria da FEB recebem ordem de avançar para tentar tomar o monte. Os alemães respondem com fogo cerrado e a artilharia brasileira dá o troco, mas perde a mira e quase atinge nossas próprias tropas. O avanço é interrompido
Ao meio-dia, o general americano Mark Clark, comandante das operações na Frente Italiana, visita o general brasileiro Mascarenhas de Moraes e vem a ordem para o avanço continuar. Uma unidade de elite americana toma espinhaços próximos para ajudar a subida dos brasileiros
Perto das 14 horas, batedores relatam a chegada de reforços alemães que vieram de regiões próximas. Mesmo assim, as tropas brasileiras seguem avançando e atacam o penúltimo ponto antes de alcançar o cume do Monte Castelo
Às 15h30, os combates diminuem e uma relativa calma se impõe na montanha. Os soldados brasileiros aproveitam para atender feridos e acompanhar as evoluções de um teco-teco da FEB que sobrevoa lentamente a área em missão de reconhecimento
Às 16h20, a artilharia brasileira concentra seu fogo sobre a montanha, e o cume se transforma numa grande cratera. Oculta pela fumaça, uma unidade da FEB avança, mesmo sabendo que os aliados americanos ainda não conseguiram conquistar um ponto estratégico
Sob uma chuva de morteiros nazistas, patrulhas brasileiras e alemãs se enfrentam em combates corpo-a-corpo, usando submetralhadoras, pistolas e fuzis com baioneta. Às 17h50, o tenente-coronel brasileiro Emílio Rodrigues Franklin anuncia pelo rádio: “Castelo é nosso!”
Atrás da linha vermelha
As forças do Eixo na Itália tinham uma linha de defesa chamada Gustav. Quando ela foi rompida pelos aliados, em 1944, os alemães se retiraram para o norte, no alto da cordilheira apenina. Lá, montaram nova linha defensiva, a Gótica, da qual fazia parte o Monte Castelo.
Mergulhe nessa
Na livraria:
O Brasil e a Segunda Guerra Mundial: História de um Envolvimento Forçado – Vagner Camilo Alves, Editora Loyola, 2002
Guerra em Surdina: Histórias do Brasil na Segunda Guerra Mundial – Boris Schnaiderman, Editora Brasiliense, 1995
Adão Damasceno Paz e Luís Bernardo de Morais, assam e estruparam envergando o uniforme da FEB
A HISTÓRIA DE DOIS PRACINHAS QUE QUASE FORAM PARA O
PELOTÃO DE FUZILAMENTO POR HOMICÍDIO E ESTUPRO
Autor – Rostand Medeiros
Na atualidade, ados mais de sete não décadas do fim da Segunda Guerra Mundial, a visão que a maioria do povo brasileiro possui da FEB – Força Expedicionária Brasileira, e de sua ação nos campos da Itália é muito positiva.
Primeira e até hoje única força de combate latino-americana a lutar de maneira efetiva , abrangente e com grande número de militares em solo europeu. A ação da FEB está registrada em inúmeros livros de memória, documentários e filmes que enaltecem a participação de simples brasileiros, a maioria deles saídos dos campos de um país ainda prioritariamente agrário, para combater no maior conflito da história da humanidade.
Aqueles que lá estiveram merecem ter por parte dos familiares, amigos, das autoridades e de todos os brasileiros o amparo, apoio e atenção pelo que fizeram nos campos de combate.
Mas nem todos cumpriram com o seu dever.
SEGUINDO PARA A GUERRA
Em 1942, em meio aos vários afundamentos ocasionados pela ação de submarinos alemães e italianos e a mortes de muitos brasileiros, o sentimento provocado por estas tragédias fez com que o povo apoiasse sem contestação a ida de nossas tropas para lutar contra os nazifascistas.
Manchete comum na época da guerra e que revoltava o povo brasileiro
Homens e mulheres de várias partes do país foram convocados e aceitaram o compromisso de envergar o uniforme das nossas forças armadas para ombrear-se com outras nações aliadas pelo fim do conflito.
Muitos jovens, que anteriormente sequer conheciam algo além da vila mais próxima da fazendinha em que viviam com seus familiares, que utilizavam a enxada como instrumento de trabalho e o chapéu de palha para se protegerem do sol, foram deslocados para outras terras, onde existiam outros sotaques e outros pensamentos. Lá vislumbraram novos horizontes, receberam o fuzil para realizar o seu novo ofício e colocaram o capacete de aço na cabeça.
Essa situação, extremamente comum dentro das fileiras da FEB, se repetiu com Adão Damasceno Paz e Luís Bernardo de Morais, ambos agricultores e oriundos respectivamente da regiões rurais das cidades gaúchas de Santiago e São Borja.
O presidente Vargas visita soldados brasileiros no navio transporte que os levou a Itália
Eles seguiram para o Rio de Janeiro, então capital do país, onde iniciaram um forte e pesado treinamento, aguardando o momento de embarcarem para além mar. Nos momentos de folga os dois rapazes seguiam a conhecer as belezas e o mundo novo que existia na cidade maravilhosa.
Em 2 de julho de 1944, Adão e Luís estavam dentro de um enorme navio como membros do primeiro escalão da FEB e junto a eles estavam milhares de pracinhas vindos de todas as partes do país.
PROTEÇÃO DO GENERAL MASCARENHAS DE MORAIS
Não sei se os dois agricultores se conheceram ainda no seu estado de origem, apesar das suas cidades serem muito próximas, ou no campo de treinamento no Rio, ou ainda no navio transporte que os levou a Itália. Mas na pátria de Dante Alighieri, aonde chegaram a Nápoles no dia 16 de julho de 1944, consta nas informações apuradas que os dois homens foram designados para uma função na FEB que muitos consideravam de extrema honra e importância. Eles ficaram lotados no Pelotão de Defesa do Quartel General, compondo a guarda pessoal do comandante da 1ª Divisão de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira, o general João Batista Mascarenhas de Morais.
Juntos na Itália os generais Mark Clark (esq.) e Mascarenhas de Morais (dir.)
Segundo a narrativa dos dois ex-militares, que se encontra na edição da “Revista da Semana”, de 16 de julho de 1949, trabalhar na proteção do general Mascarenhas de Morais não era tarefa fácil, pois o comandante estava sempre em deslocamento por toda área de atuação das FEB no norte da Itália.
A todo o momento aconteciam deslocamentos do general, onde durante quatro meses, nas próprias palavras de Luís Bernardo de Morais, os dois rapazes protegeram o general Mascarenhas em suas viagens a linha de frente. Para eles era muito fatigante, pois “o general não parava”.
O general Mascarenhas de Morais recebendo frutas de uma camponesa italiana
A reportagem de 1949 não comenta nada disso, mas devido à atividade a qual Adão e Luís estavam designados, acredito que eles não entraram efetivamente em combate contra as forças nazifascistas.
Até porque ao general Mascarenhas cabia à função de comandar sua tropa, recebendo ordens do general norte-americano Mark Clark, então comandante do 5º Exército, força militar aliada a qual a nossa FEB estava subordinada na Itália. Não cabia ao general comandante da Força Expedicionária Brasileira se expor desnecessariamente as balas inimigas, ou arriscar uma desastrosa captura e criar sérios entreveros a participação brasileira naquele cenário.
A VERSÃO DOS CRIMINOSOS PARA A IMPRENSA
Em meio a estas andanças, em um dia de folga, segundo eles “Lá pelos lados de Porretta”. Informaram também que aram dos limites no consumo de álcool, que era franco e facilmente encontrado. Alterados pela bebida, os dois rapazes se sentiram estimulados a procurarem mulheres e saciarem suas vontades sexuais.
Capa da Revista da Semana onde está a reportagem sobre o caso – Fonte – BN
Na reportagem da “Revista da Semana”, Adão e Luís comentam que a miséria na Itália era intensa e a fome grassava impiedosamente entre os seus habitantes. Premidas pela necessidade, segundo os dois pracinhas, as moças italianas davam preferência aos soldados norte-americanos, mais ricos e com mais comida.
Afirmaram que havia uma casa onde eles sabiam que havia “jovens italianas” que saiam com soldados da U.S. Army. Alterados e encorajados pela bebida, os dois brasileiros foram em busca das jovens, desejosos de receberem os mesmos favores que eram dispensados aos estadunidenses.
Tropas americanas junto a população civil italiana durante a Segunda Guerra
Na matéria os dois soldados pareceram ficar particularmente irritados com a atitude dos soldados gringos, que avam acintosamente na frente dos militares brasileiros, levando mais de uma destas mulheres. Percebe-se que eles tinham uma certa inveja dos americanos.
A reportagem não diz o número exato de mulheres que estavam no local, mas informa que os dois soldados brasileiros entraram na casa a noite, armados de submetralhadoras.
Surpresas, as italianas não tiveram como reagir e durante meia hora os brasileiros praticaram várias sevícias contra elas.
Enquanto um montava numa das vítimas o outro ficava de guarda. Nisso Luís ouviu um barulho, saiu para ver o que ocorria e percebeu o vulto de um homem que se aproximava. Em meio gritaria que se formou, ele apagou as luzes do recinto e metralhou a estranha figura.
Os dois soldados brasileiros fugiram pela praça principal deste lugarejo próximo a cidade de Porreta e correram por mais de meia hora, até terem a certeza que não eram perseguidos.
Aqui vemos Luís, Adão e o jornalista Hélio Fernandes
Ao repórter da “Revista da Semana”, Hélio Fernandes, Adão e Luís afirmaram que logo o comentário do ocorrido no lugarejo italiano foi intenso. Em pouco tempo o pessoal do pelotão da Polícia do Exército incorporada a FEB, comandado pelo 1º tenente José Sabino Maciel Monteiro, estavam recebendo informações sobre a situação e os dois militares foram capturados.
A VERSÃO DA JUSTIÇA MILITAR
A reportagem da “Revista da Semana” é muito falha em termos de detalhes, além de extremamente tendenciosa, que pudesse esclarecer mais sobre este assunto. Mas no trabalho de conclusão de curso realizado em 2003, pela historiadora Carolina Mendes Pereira, da Universidade Federal do Paraná, e intitulado “Delitos sexuais cometidos pelos soldados brasileiros em campanha na Itália durante a Segunda Guerra Mundial: do estupro e homicídio ao indulto” (ver http://www.historia.ufpr.br/monografias/2002/carolina_mendes_pereira.pdf) e no próprio Boletim do Exército nº 13, de 31 de março de 1945 (páginas 948 a 953), nos excertos do Parecer n. 8 da Procuradoria Geral (transcritos no blog http://froilamoliveira.blogspot.com.br/2011/10/condenado-morte.html), encontramos informações bem mais detalhadas sobre o caso.
Adão em sua cela
Os dois brasileiros confessaram, segundo o Boletim do Exército, “friamente e com abundância de detalhes” que o fato ocorreu na pequena aldeia medieval de Madognana, distante quase quatro quilômetros da comuna de Granaglione, província da Bolonha, na região italiana da Emilia-Romagna, nordeste daquele país e não muito distante da cidade de Porretta-Termi.
Segundo o trabalho de Carolina Mendes Pereira, os soldados avistaram a vítima, a menor Giovanna Margelli, com 15 anos de idade, por volta das 16 horas, enquanto esta eava pela rua acompanhada da jovem Vittoria Mendola. Os pracinhas brasileiros seguiram as duas garotas até a casa em que Giovanna estava hospedada e onde ambas haviam entrado.
Quadro típico de uma localidade italiana da região próxima a Magdonana, onde ocorreram os crimes
Inicialmente a dupla se limitou a agradar as pessoas que ali estavam, oferecendo um pedaço de chocolate e dirigiram algumas poucas palavras. De forma vil e dissimulada declararam que não tivessem medo “pois os brasileiros eram bons”, fizeram mais alguns comentários e se retiraram, afirmando que iriam entrar em serviço.
“QUERIA PEGAR A MULHER”
Ao Boletim do Exército informaram que logo após o jantar muniram-se de metralhadoras portáteis e dirigiram-se a casa onde já haviam estado à tarde, em procura de uma mulher, que segundo informaram lhes “tinha feito cara feia”.
Luís acompanhando as notícias sobre as praias cariocas
Na noite de inverno rigoroso os soldados entraram na casa de número 231, às 20h30 de 9 de janeiro de 1945, “movidos por intuitos que não deveriam ser de natureza nobre”, pois seguiram para o seu intento utilizando o chamado “a montanha”, gorro com abertura apenas nos olhos.
Neste segundo momento naquela casa, os moradores convidaram-nos a entrar e a aquecer-se junto ao fogo, talvez esperançosos de receber alguma migalha que lhes mitigasse a fome. Encontraram na residência Giovana, a prima Tonina, de 23 anos, o filho de Tonina, Ferdinando, de 3, os primos Stefano, de 20, e Giuseppe, de 14, e a avó doente, Maria Rita.
A seguir Adão Damasceno disse a Luís Bernardo que era melhor apagar a luz de uma lamparina a querosene dizendo “Vamos apagar a luz de uma vez para pegar a mulher no escuro”, esta era Giovanna Margelli. Consta no Boletim do Exército que Luís repetiu a ordem de apagar a luz para Stefano, mas o rapaz não entendeu. O soldado da FEB então deu uma rajada de metralhadora que destruiu a lamparina e todas as pessoas, menos Giovanna, fugiram atemorizadas. Adão conduziu a jovem para o quarto e ou a saciar os seus “instintos carnais”.
Adão com um companheiro de cadeia
Para facilitar a conclusão deste crime covarde, Luís ficou de guarda em uma porta onde ficava de olho no movimento fora do recinto.
Certamente alertado pelos disparos e pelo terror transmitido por quem conseguiu fugir, Leornado Vivarelli, de 57 anos, tio da jovem que estava sendo estuprada, veio em seu auxílio completamente desarmado. Ao ser visto pelo soldado brasileiro este não pestanejou e disparou uma rajada de balas que atingiu o idoso no pescoço e no ouvido. Após o assassinato Luís gritou: “Apressa-te (Adão) que já matei um homem”.
Stefano sustentou outra versão. Afirmou que ouviu o soldado gritar: “Andare via (vá embora)!”. “Após uns segundos, ouvi a descarga de metralhadora. Depois, o silêncio.
No depoimento os soldados disseram que, à exceção de Giovanna, todos “fugiram”. O jovem Giuseppe deu outra versão. Relatou que foi trancado no banheiro por Luiz Bernardo e depois empurrado a um quarto, onde foi obrigado a pular da janela. O soldado ainda teria disparado, sem acertá-lo. Todos relataram que Adão agarrou Giovanna. Ela pediu socorro a Stefano, que alegou nada ter feito por estar desarmado.
Em meio a confusão os soldados inverteram os papéis. Adão foi fazer sentinela. Luiz Bernardo seguiu para o quarto, onde ou meia hora com Giovanna. Depois, disse a Adão que a havia violentado. Mas itiu em depoimento, versão confirmada pela jovem, que estava embriagado e não conseguiu praticar o ato. Mentiu por “amor-próprio”, ressaltou o auditor do inquérito – uma junta médica da FEB confirmou, sete dias depois, a violência praticada por Adão. Aos médicos, Giovanna disse que foi “tomada pelo terror”.
Após isso os soldados voltaram para o acampamento de sua unidade. Na saída de Madognana, Luiz Bernardo deixou cair um cachecol e uma lanterna e Stefano os achou.
Soldados norte-americanos da 34º Divisão de Infantaria, conhecida como “Divisão Red Bull”, junto a uma jovem italiana.
Já no dia seguinte o irmão de Leonardo Vivarelli vai ao encontro de oficiais da FEB e apresenta uma queixa dos crimes praticados. Ele entregou no Quartel-General da 1.ª Divisão de Infantaria Expedicionária, em Porreta Terme, cidade cercada por montanhas controladas pelo exército nazista, os materiais encontrados por Stefano. Detidos, os acusados confessaram tudo e eles são prontamente presos pela Polícia do Exército.
Embora ressalte a embriaguez, forma de evidenciar o desrespeito às normas militares, o processo destaca que o crime ocorreu logo após o jantar, não deixando claro quando e quanto tomaram de vinho.
Ouvido no inquérito como testemunha, o cabo Renan Alves Pinheiro disse que, na tarde do dia do crime, os dois soldados na verdade perseguiram Giovanna pelo vilarejo. Perguntados se podiam justificar sua inocência, Adão e Luiz Alberto ficaram em silêncio. O advogado deles, 2.º tenente Bento Costa Lima Leite de Albuquerque, chegou a afirmar que não houve crime doloso pois Giovanna não teria reagido.
Os dois soldados foram celeremente julgados pela justiça militar brasileira, que na época possuía o Conselho Supremo de Justiça com sede em Nápoles. O auditor do inquérito, tenente-coronel Eugênio Carvalho do Nascimento, condenou os dois à morte por matar um homem para garantir violência carnal. Consta que os dois envolvidos possuíam históricos que registravam prisões por embriaguez e saídas sem autorização do quartel.
Na reportagem publicada no jornal paulistano O Estado de São Paulo, edição de domingo, 25 de agosto de 2012, comemorativa aos 70 anos da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, o repórter Capixaba, Leonencio Nossa, atualmente trabalhando na sucursal de Brasília do jornal O Estado de São Paulo, informa que uma dezena de estupros foram praticados por pracinhas na Itália. Mas apenas o caso de Adão e Luiz Bernardo foi julgado devido aos assassinatos. O jornalista não aponta detalhes.
O Gen. Morais (centro) junto a oficiais aliados – Fonte – FGV-DOC
Desde o dia 6 de novembro de 1944, quase quatro meses após a chegada da FEB na Itália, o Quartel-General do general Mascarenhas estava na pequena cidade de Porretta-Termi. Deste ponto o bravo general comandou o primeiro dos cinco ataques que iriam tomar Monte Castelo dos alemães, fato ocorrido somente em 21 de fevereiro de 1945. Como estes dois homens faziam parte da guarda do general Mascarenhas de Morais, imagino o quanto deve ter sido difícil para o comando da FEB, em meio aos inúmeros problemas relativos aos combates de Monte Castelo, saber que dois membros da sua guarda pessoal estavam envolvidos em homicídio e estrupo.
PENA CAPITAL
Segundo o trabalho da historiadora Carolina Mendes Pereira, no caso dos soldados Adão e Luís, o crime de estupro por eles cometidos estava descrito nos artigos 192 e 312 do Código Penal Militar vigente em 1944, isto é, código das normas aplicadas aos crimes cometidos na guerra.
Os artigos acima mencionados apontam que:
Art. 192. Constranger mulher a conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça: Pena – reclusão, de três a oito anos.
Art. 312. Praticar qualquer dos crimes de violência carnal previstos nos arts . 192 e 193, em lugar de efetivas operações militar: Pena – reclusão, de quatro a doze anos.
Parágrafo único. Se da violência resulta:
Lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão, de oito a vinte anos;
Morte: Pena – morte, grau máximo; reclusão de quinze anos, grau mínimo.
A historiadora aponta que no caso da execução da pena capital em crimes militares ocorridos em tempo de guerra, a pena seria realizada através do fuzilamento do culpado. Se ela é imposta em zona de operações de guerra, pode ser imediatamente executada, quando exija o interesse da ordem e da disciplina militar.
Artilheiros da FEB na Itália. Todos os soldados brasileiros estavam sujeitos a rígidos códigos militares
Carolina Pereira mostra que um total de 66 sentenças foram proferidas contra militares brasileiros da FEB, sendo que metade foi lavrada na Itália e outra metade no Rio de Janeiro. Das 33 condenações conhecidas na Itália, duas foram proferidas em Pisa, 14 em Pistóia, sete em Pavana, duas em Vignola e oito em Alessandria. A primeira destas condenações ocorreu em Pisa, em 2 de outubro de 1944.
Já em relação ao caso aqui comentado, a historiadora aponta que pela justiça militar, Adão e Luís deveriam ter sido sumariamente fuzilados na própria frente de combate.
Pelotão de fuzilamento americano, executando um colaboracionista dos alemães
Na análise dos documentos do processo, percebe-se no texto de um dos votos dos membros do Conselho Supremo de Justiça Militar, que a execução da pena de morte destes dois elementos na frente de combate era aceita. Vemos isso claramente no Diário de Justiça, Ano XX, março de 1945 – Sentença de Pena de Morte em tempo de Guerra, apelação nº 21, da 2º auditoria militar da 1º D. I., cujo relator, o general Boanerges Lopes de Souza, assim se pronunciou em 6 de março de 1945:
“Votando, como voto, pela confirmação da sentença, defendo a honra do Exército e a própria civilização brasileira. Não fossem os embaraços opostos pela moderna legislação, estou certo de que o comandante das forças brasileiras na Itália teria, com grande proveito para a boa ordem de suas tropas, feito fuzilar, sem quaisquer delongas, esses criminosos.”
SOFRIMENTO DAS MULHERES NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
O hediondo crime de estrupo durante a Segunda Guerra Mundial foi quase um lugar comum em todas as frentes de combate, praticado por todos os envolvidos no conflito e pouco apresentado nos filmes de guerra estrelados por John Wayne e companhia.
Nas guerras as mulheres civis normalmente se tornam alvos fáceis para diversas práticas de violências – Fonte – AP Photo
Na região onde existia o setor de defesa alemão denominado “Linha Gótica”, em seis meses do ano de 1944, em particular em torno Marzabotto, bem como nos Apeninos, Ligúria e Piemonte, foram registrados 262 casos de estupro realizados pelos chamados de “Mongóis”, os desertores soviéticos de origem asiática, que aram a servir no exército alemão.
Mas as italianas, tal qual a mulher atacada pelos brasileiros Luís e Adão, sofreram igualmente nas mãos de tropas aliadas. Segundo este site, entre 15 e 17 de maio de 1944, os soldados coloniais ses que chegaram à cidade de Esperia, antiga sede da 71º Divisão de Infantaria da Wehrmacht (Exército Alemão), protagonizou o estupro contra muitas mulheres que chocou os comandantes aliados.
Está mais do que marcado no imaginário popular como os russos trataram as alemãs em 1945. Mas muitos apontam que eles apenas repetiam o que as tropas de Hitler haviam protagonizado com as mulheres russas
Até mesmo nas forças armadas norte-americanas houve inúmeros destes casos. A maioria das ocorrências de pena de morte envolvendo tropas americanas durante a Segunda Guerra Mundial ocorreu devido a estupros ou assassinatos contra mulheres, a maioria delas alemães.
De acordo com documentos no Arquivo Nacional daquele país, só no teatro de guerra europeu, o exército dos Estados Unidos executaram 70 dos seus próprios soldados à morte, a maioria pela forca. O número total de soldados americanos executados em todas as frentes de combate durante aquele conflito foi de 141 militares.
Corpo do soldado americano Eddie Slovik sendo retirado após seu fuzilamento. Sua condenação foi por deserção
Para os americanos a desonra envolvida nestes casos era uma coisa era tão séria, que aqueles que foram executados estão enterrados fora de seus vários cemitérios militares. As autoridades militares se recusaram a dar a estes criminosos o privilégio de serem enterrados ao lado dos que caíram em combate.
Um caso típico envolve o estupro de uma mulher italiana na Sicília. Quatro membros de uma unidade de soldados negros que havia desembarcado na invasão daquela ilha italiana em 9 de Julho de 1943, entraram uma tarde na pequena aldeia de Marretta, perto da cidade de Gela. Lá David White, Armstead White, Harvey L. Stroud, e Willie A. Pitman, estupraram e surraram seriamente uma mulher italiana diante de seus familiares. Mais tarde todos os quatro foram julgados e condenados por estupro. Em pouco mais de um mês todos quatro militares foram sumariamente executados por enforcamento.
DE VOLTA AO BRASIL
Mas voltando ao caso dos brasileiros Adão e Luís. Consta que estes foram enviados para uma prisão em Roma, destinada a receber os sentenciados a morte pelas forças aliadas e ali aguardaram o destino.
O ex-pracinha Luís, diante da imagem de sua santa padroeira, Nossa Senhora das Graças
Segundo os dois condenados, teria sido um “Cardeal”, do qual não é citado o nome, que conseguiu transformar a pena dos dois brasileiros em 30 anos de prisão. Não encontrei nada que corroborasse esta afirmação da entrevista feita pelo jornalista Hélio Fernandes, mas é certo que eles não morreram diante de um pelotão de fuzilamento.
Relação dos militares sentenciados da FEB, trazidos no navio Pedro I
Em julho de 1945 os dois foram então embarcados no navio brasileiro Pedro I, junto com outros 900 pracinhas. Durante a travessia oceânica eles ficaram sob a guarda da Polícia do Exército, que além dos soldados Adão e Luís custodiavam outros 54 condenados. Constavam da lista um segundo tenente dentista, um suboficial, um sargento, três cabos e os outros eram soldados (ver a relação completa acima, retirada do jornal carioca “Correio da Manhã”, pág. 9, edição de quarta feira, 25 de julho de 1945).
Segundo a historiadora Carolina Pereira, em 3 de dezembro de 1945, o presidente Getúlio Vargas assinou o Decreto 20.082, que concedeu indulto a todos os integrantes da FEB que cometeram crimes durante a Segunda Guerra Mundial, excluindo os crimes de natureza gravíssima ou infamante, como os praticados por Adão e Luís.
Já no Rio de Janeiro os dois aram a cumprir os 30 anos de pena na então conhecida Penitenciária Central do Distrito Federal, antiga Casa de Correção, que em 1957 seria batizada como Penitenciária Lemos de Brito.
Segundo a reportagem Adão e Luís tinham bom comportamento, eram respeitados pelos companheiros de cadeia e não criavam problemas para o Diretor Castro Pinto. Como mostra de boa conduta naquele recinto penitenciário, ambos possuíam um distintivo no formato de estrela que envergavam no peito
Em 1949 eles aguardavam um indulto presidencial, que havia sido positivamente recomendado pelo Conselho Penitenciário do Distrito Federal . Mais tarde o processo de indulto restituiu a liberdade aos ex-pracinhas.
Após deixar qualquer prisão, após o cumprimento de qualquer pena imposta, o antigo sentenciado está livre para conviver novamente com a sociedade. Mas no caso destes homens, aparentemente o fardo foi muito grande.
Segundo a reportagem de Leonencio Nossa, os dois ex-soldados da FEB morreram na década de 1990. Consta que Adão vivia solitário, andava em dificuldades. Anos depois da guerra, foi acusado de furto. Na audiência, o juiz perguntou se já havia sido processado. “Fui condenado à morte.” O juiz se assustou: “Que história é essa? Brasil não tem pena de morte”.
CONCLUSÃO
A historiadora Carolina Pereira aponta que a guerra não produz só heróis. Os conflitos constroem e desmascaram monstros, embalam pesadelos, dão visibilidade à parte mais vil e desumana do ser humano.
As guerras não são apenas constituídas de batalhas, mas, também, de incessantes horas de espera e vigília dos atores, direta ou indiretamente, no front, remete à possibilidade da existência de um convívio social.
Adão junto a São Jorge
Os combatentes interagem não só dentro do próprio corpo do exército, mas também com a população local onde estão alojados. Pode-se dizer que nestes cenários são travadas outras batalhas em que tais populações recebem o rebatimento das condições físicas e emocionais dos militares. Para a historiadora a população civil também é vítima do estado de guerra.
Joel Silveira na FEB
O falecido jornalista Joel Silveira, correspondente de guerra brasileiro na Itália, deixou registrado em um recente documentário produzido pelo repórter Geneton Moraes Neto, que na retaguarda as brutalidades podem ser piores do que na frente de combate. E realmente ele tinha razão. Naqueles dias em solo italiano o ato sexual era mercadoria de troca, pois a miséria e a devastação causada pela guerra fizeram com que a população local trocasse o corpo por comida e proteção.
Sabemos que todas as instituições militares em combate estão sujeitas a possuírem em suas fileiras, por mais que existam ótimos critérios de seleção, as chamadas “maçãs podres” e no caso da FEB não foi diferente. Mas percebemos, ao remeter-se a realidade enfrentada pelos soldados brasileiros em solo italiano, que a incidência de crimes de violência sexual no meio de nossa tropa pode ser considerada pequena.
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The Brazilian Expeditionary Force (Portuguese: Força Expedicionária Brasileira, or FEB) was the 25,300-man force formed by the Brazilian Navy, Army and Air Force that fought alongside the Allied forces in the Italian Campaign of World War II.
The Brazilian 1st Division of the FEB was under the command of 15th Army Group of Field Marshal Harold Alexander (later General Mark Clark), via the U.S. Fifth Army of Lieutenant General Mark Clark (later Lieutenant General Lucian Truscott) and the US IV Corps of Major General Willis D. Crittenberger.
The Brazilian Air Force component was under the command of XXII Tactical Air Command, which was itself under the Mediterranean Allied Tactical Air Force.
REASON WHY BRAZIL ENTERED IN WW2
One could argue which was the main reason why Brazil entered the Second World War. In the early 40’s, as a result of the diplomatic actions for the “good vicinity” politics, led by Pres. Roosevelt, fascist – oriented Brazilian strong man, Getúlio Vargas, had to realign his political cores with big brother United States, fighting for Democracy and the Free World.
Getúlio Vargas
Brazil was a very important strategic point for the Allies in the more intense scale of war in Europe and North Africa. Right after Pearl Harbor in 41, Brazil cut relations with Axis countries. Sooner, United States was engaged in the war in Europe and North Africa. All this settled, in a short time there were several air bases in Brazilian land to help the American planes, ships, men and material reach North Africa, in what was called “The Springboard for Victory “. It is said that the American Air base in the city of Recife was one of the busiest in the world at that time.
Natal AFB in World War Two
This base along with another in the city of Natal, helped men, equipment and provisions reach North Africa, since these bases were in the Northeast seashore of Brazil. At the same time, American Army instructors started to train Brazilian troops and supply equipment to Brazilian Army, Navy and Air Force, in the hay days of 1942. With all this privileges to Roosevelt and the war effort of the Allies, the German U Boats that once were routing through the South Atlantic, using bases in Argentina and Chile, started to sink as many merchant ships as they could, being many of this ships with Brazilian flag, in territorial waters. This ragged the public opinion in Brazil so as to force a declaration of war against the Axis on August 42.
Symbol of FEB
When Brazil – the only country in South America who fought along the Allies – entered WWII, no significant victories of the Allies had occurred at that early stage of the war in the fields of Europe or the Pacific. Soon came the mobilization of men to form the Brazilian Expeditionary Force FEB, in a giant effort to upgrade a backdated army in its doctrine and equipment. It took two years to get these men ready to the war effort against the Axis forces.
Later in 1944, the Brazilian Forces ed the Allies in Europe to help the actions in Italy, after a gross part of the more experienced troops left for Anzio, South of and even Normandy. With very few time for proper training, the Brazilian troops compensated with great character and capacity of adaptation to war conditions in a very tough terrain and climate, being well honored by all the staff of the Allied High Command during their participation in the Italian Campaign. Many Brazilian soldiers were condecorated with the highest medals of the American Forces. This has been the finest hour for the Brazilian Expeditionary Force FEB.
THE CAMPAIGN
In the first days of July, 1944, the first Echelon of the Brazilian Expeditionary Force FEB – left to Europe, aboard the American ship General Mann, in a total of 5.081 men. Originally, the ship should be going to Argel, where the troops would get preliminary training before landing in Italian soil. However, the convoy headed straight to Naples, where the troops disembarked and waited to US Task Force 45. Later, on the 22nd July, two more ships, Gen Mann and Gen Meigs, left to Europe, with the Second and Third Echelons, with 10.369 men total. The last two Echelons, Fourth, with more 4.722 men and Fifth,with 5.128 men, left Brazil on the last days of November and first days of February ’45, totaling 25.300 men.
Brazilian soldiers in Italian front
The first moments of the Brazilian troops in Italy were dedicated to acquiring and training with new equipment, since the uniform and gear of the Brazilian Army would not fit the different climate and tough exigencies of a modern war (yes, it was obsolete). So that, all the gear used by the Brazilian Army was the average US G.I. equipment. The troops were moved to Tarquinia, 350 Km North of Naples, where the US 5th Army, commanded by the famous Gen Mark Clark, was based. The Brazilian troops were incorporated to the 4th Army Core, commanded by Gen Crittenberger. On the 19th August, Churchill himself visited the 5th Army in Cecina, where he was told that Brazilian troops were part of the Guard of Honor. He directed some of his speech to the Brazilian troops that now ed the war effort in Italy.
The right is General Mark Clark, commander of the 5th Army and a Brazilian military
The Brazilian troops were filling the gap left by several divisions of the 5th US Army and French Expeditionary Force that went to the invasion in the South of . This straight action with the fresh Brazilian troops was a necessity, due to the great operation at Anzio, to where so many American and British troops were issued. The overall command of Brazilian troops was made from the High Command of the 15th Allied Army Group, headed by Gen Mark Clark and Gen Crittenberger (5th Army and 4th Army Core, USA), Field marshal Alexander (8th Royal Army, England) together with the high staff of the Brazilian Army, Gen Euríco Dutra, Gen Mascarenhas de Moraes, Gen Zenóbio da Costa and Gen Cordeiro de Farias (commanders of several Infantry and Artillery Divisions among the whole of the Brazilian Expeditionary Force).
On the 16th November, FEB occupied Massarosa. Two days later, Camaiore and other small towns and cities on the way North. During this period, the Brazilians G.I.s, or “pracinhas”, created the FEB symbol, consisting of a badge with a snake over National colors (Green and Yellow), with a smoking pipe in mouth. This was a big irony to answer a group of the society opposing Brazil entering the conflict, who used to say that it was easier to see a snake smoking than to see Brazilian troops sent to fight the war…
In October, FEB conquered Monte Prano, controlled the Sercchio river valley and Castelnuovo, with first significant losses. Later that month, troops were directed to the Reno valley. This region, at the feet of the Appenines, was the place where FEB would spend the next three months, facing rigorous winter and the fierce resistance of the German forces up on the mountains and hills, the so called Bernhard and Gustav Lines, strong defenses made by the Axis to delay the advance of troops.
Monte Castelo
It was there where one of the great achievements of the Brazilian troops took place: Monte Castelo. In the end of November, several attempts were made to kick the Germans out of this hill, from where they could spot all movements of Allied troops.
The freshly created and debuting in the front 10th US Mountain Division, ed FEB in an 18Km front, having the task of clearing Monte Belvedere from the Germans atop of it. The days went by with head-on clashes with the well nested Germans, clearing off mine fields, “booby traps”, ambushes, machine gun nests, all this under a heavy barrage of grenades and mortar fire. It was not until the 21st of February, 1945, that finally the Germans were battered off Monte Castelo. The Brazilian troops paid a heavy toll for this victory, but still there was more to come.
Montese – A page of bravery and courage of the brazilian soldiers
On 5th of March, FEB entered Castelnuovo. During this period, the Offensive for Spring was being prepared by the High Staff of Gen. Crittenberger and the Brazilian High Command. This was a large scale operation (which would endure till the last days of the War), ranging from the Adriatic to the Tirrene, using every single Division of every Army taking part in the campaign. The actions would start with a frontal attack on the enemy lines, and the city of Montese was the target to the Brazilian troops, so as to remove what was left of the German artillery, still causing great damage to the Allies. The city was taken, but late at night, the Germans counter attacked and it took a high number of casualties to finish off with the fight, again, a tough and bloody page in the actions of FEB during the Italian Campaign.
German militaries of 148th Infantry Division of surrender to Brazilians soldiers on April 28, 1945 near the city of Fornovo. By that time it was commanded by General Otto Fretter-Pico and had some 9,000 soldiers. Despite the still strong manpower, and the fact that it had more than 100 mortars and cannons , the division was by this time very low on ammunition and supplies.
At this point, the Germans were trying to regroup after escaping through road 64, the only path down the Appenines. The progress of the troops was fast and in a few days, the city of Parma was taken. Later on, FEB entered Bologne without any resistance. In the end of April, the actions of pursuing the enemy became the main occupation of the Allied Forces. So it was that FEB entered Collechio, still under German artillery. After surrendering a large number of Germans, the Brazilian Forces were preparing to face fierce resistance at the river Taro, from what was left of the retreating German Forces , this time through route 62. The German troops were surrounded near Fornovo and forced to surrender. So that, the entire 148th Wehrmarcht Infantry Division, consisting altogether of more than 16 thousand(!) men, including the 80th Panzer division, several Italian divisions and more than a thousand vehicles(!), surrendered to the Brazilian Forces on 28th April.
The Brazilian cemetery in the Italian city of Pistoia
On 2nd May, Brazilian Forces entered the city of Turin, in the Northeast of Italy, meeting French Mountain troops in the frontier, while in the North, FEB was on the heels of German Forces still on the run. At this date, the astounding news that Hitler was dead put an end to the fights in Italy. All German troops finally surrendered to the Allies in the following hours.
WAR IS OVER!
During eight months of the Italian Campaign, the Brazilian Forces managed to make 20.573 Axis prisoners, being two generals, 892 officials and 19.679 privates. FEB had 443 KIA, being 13 officials. Summing up with the lives of civilians and military that were in the ships of the Brazilian Merchant Navy – sunk in the South Pacific in Brazilian waters by U boats, more losses in the Brazilian Navy and Air Force, the Second World War stole the lives of nearly 2.000 Brazilians.
The victory parade in Rio de Janeiro
The 443 soldiers buried in the FEB cemetery in Pistoia were later removed to the WW II mausoleum and monument built in Rio de Janeiro, in the beginning of the 60’s, where stands the eternal flame lit in the tomb of the Unknown Soldier.
THE BRAZILIAN AIR FORCE – FAB
The FAB had a group of pilots and land personel trainned in the United States, the 1º GAvCA (1st Fighter Group), sent to Italy and alocated in the 350th U.S. Army Air Force Fighter Group.
Aircrafts Republic P-47 Thunderbolt, belonging to the Brazilian Air Force who fought in the skies over Italy
The Brazilian pilots actually formed one of the 20 squadrons of the XXII Air Tactic Command, flying the updated P-47D. Their role was very important to the actions of all Allied forces in Italy and the Brazilian pilots were also very praised for their important air-to-ground operations. Many pilots were victims of heavy flack, some were downed , captured by Germans and taken to prisioner camps in …